Uma pesquisa da IDEIA/VERO publicada na Exame nestas quarta-feira aponta que 79% dos brasileiros consideram a disseminação de notícias falsas, as chamadas “fake news”, como sendo um problema grave. “Há cinco anos, não haveria esse grau de preocupação com as fake news”, diz o pesquisador Maurício Moura, fundador do IDEIA e um dos organizadores da pesquisa. “As fake news passaram a ser um tema na sociedade, e o próprio termo se popularizou.” O estudo revela que a maior atenção às “fake News” indica que está cada vez mais consciente de que a desinformação é um problema.
A fatia é maior entre os sem religião e os com ensino superior (88%), mas se mantém alta entre todos os grupos socioeconômicos e todas as regiões.
A pandemia evidenciou ainda mais o problema.
Durante a maior crise do século, muitos brasileiros não viram as fontes oficiais como seguras, ao mesmo tempo em que foram bombardeados por desinformação na internet — nesta terça-feira, 10, por exemplo, o Facebook tirou do ar uma rede de perfis que espalhava negacionismo sobre vacinas, incluindo no Brasil.
A “antipolítica” Tais comportamentos são responsáveis por intensificar a aversão à política institucional ou partidário.
Dessa forma, 67% da população diz estar interessada em política (dos “às vezes” interessados aos “extremamente” interessados).
Já no grupo com ensino superior, a fatia de interessados sobe e vai a 77%.
Por outro lado, somente pouco mais da metade dos brasileiros (54%) afirma ter alguma posição política, seja ela de esquerda, direita ou centro.
Esquerda e direita estão empatadas na casa dos 20% dos eleitores cada, e o centro vem atrás, com 10%. “Culturalmente no Brasil, quando alguém define posição política, é como se passasse um recibo de que é manipulado, que tem segundas intenções. É um pouco da nossa cultura também, essa visão de que a política é sempre ruim”, diz Caio Machado, diretor executivo do Instituto Vero e pesquisador da Universidade de Oxford, do Reino Unido.
Posicionamento e desinformação Os mais informados tendem a se posicionar mais politicamente.
Do grupo que se diz “muito interessado” por consumir notícias, a média dos que definem posição política é maior do que a nacional (65%) — e o grupo se espalha da esquerda à direita. “Vender isenção não é comercialmente viável.
As pessoas consomem cada vez mais um nicho”, diz Moura. “As que se dizem mais politizadas acabam sendo as que também alimentam o viés de autoafirmação, se interessando somente por aquilo que confirma o que pensam.” Por outro lado, a pesquisa consta que 21% dos brasileiros admitiram ter alguma vez compartilhado uma notícia política mesmo suspeitando que a informação não fosse verdadeira. “O que leva essas pessoas a, na prática, toparem espalhar uma mentira? É um grupo que chegou a um nível tamanho de animosidade que aceita inclusive violar seus valores em busca de um fim político”, completa Machado.
Os institutos IDEIA e Vero entrevistaram 2.000 pessoas em todo o país em julho.