Por Taciana Ferreira, presidente da CTTU, em artigo enviado ao blog O Dia Internacional do Pedestre, comemorado em 8 de agosto, é uma oportunidade para refletir sobre as diretrizes da mobilidade urbana e o preço que hoje pagamos neste início de século por um planejamento que foi pautado no deslocamento dos veículos motorizados, adotado no século passado, ao invés da mobilidade das pessoas.
A inversão dessa lógica se torna cada vez mais norteadora para vivermos em cidades mais seguras, saudáveis e agradáveis.
Isso porque, na prática, os carros particulares transportam uma média de 1,2 pessoas por viagem, mas ocupam o espaço urbano de cinco passageiros ou mais.
A Prefeitura do Recife resolveu inverter a lógica da mobilidade urbana, focando nas pessoas e não nos veículos, e, assim, um programa de ações para pedestres, ciclistas e transportes públicos tem se consolidado no cotidiano na nossa cidade.
Além disso, temos que os pedestres são a parte mais frágil no trânsito, pois a única proteção que têm contra a velocidade dos demais veículos é o próprio corpo.
As viagens a pé representam 23% dos deslocamentos para trabalho e educação, de acordo com a Pesquisa Origem e Destino de 2018, perdendo apenas para o transporte público (42%).
Então, proteger o pedestre é uma estratégia para fazer de todo o trânsito um lugar mais seguro.
Isso porque todas as pessoas, em algum momento de seu dia, são pedestres, seja como usuários do transporte público, que vão a pé para um ponto de ônibus, ou, quando são condutores, seguem a pé para acessar o veículo.
Nesse cenário, as iniciativas para controle e redução de velocidade, alargamento das calçadas e travessias seguras são avanços necessários para uma cidade mais segura.
No Recife, inovamos com a requalificação dos passeios públicos, por meio do Programa Calçada Legal, da Autarquia de Urbanização (URB), que, desde 2017, tem investido no alargamento desses espaços - o que e é importante, também, para a acessibilidade de pessoas com deficiência, ou com baixa locomoção, como idosos e até crianças.
Mas para melhorar a mobilidade das pessoas precisávamos fazer mais e em menor tempo: precisávamos redesenhar o espaço urbano para que fosse, efetivamente, ocupado pelos pedestres.
Assim, encontramos uma estratégia referendada entre as melhores práticas de segurança viária, que possibilitou, além da rapidez e menor custo, a redução dos sinistros de trânsito - o urbanismo tático.
Desde 2019, temos utilizado o urbanismo tático para induzir a redução de velocidade aos condutores, diminuir o espaço de travessia do pedestre e ampliar as oportunidades de travessias com mais faixas de pedestres.
Como diz Francisco Cunha, referência em mobilidade urbana, o urbanismo tático é uma “tinta que salva vidas”.
E realmente salva.
De acordo com os dados registrados pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), houve uma redução de até 41% nos sinistros de trânsito com vítimas, após as intervenções que trouxeram um novo desenho paras ruas.
Uma das mais emblemáticas foi a recente ação implantada na Rua da Palma, na área central do Recife, entregue à população no mês de maio.
A inversão da prioridade ficou nítida e foi feita de forma justa: antes, o espaço destinado aos veículos motorizados era de 65,5% e 34,5% para os pedestres, mas a via era ocupada, em sua maioria pelos pedestres.
Agora, 40% do espaço é dedicado aos veículos motorizados e 60% da rua é destinada aos pedestres.
Assim, se consolidou a reconquista do espaço e hoje podem caminhar com mais conforto e segurança.
Temos, atualmente, mais de 35 espaços de urbanismo tático em toda a cidade e queremos ampliar ainda mais.
Já temos implantações previstas em áreas próximas à Avenida Norte, que tem sido tratada com novas travessias e mais áreas para pedestres.
O posicionamento da gestão de trânsito do Recife é de que todos os veículos devem proteger o pedestre, porque são os mais frágeis no trânsito.
Dessa forma, queremos utilizar a diretriz de redução de velocidade nas vias recomendada pela ONU para as cidades seguras e ampliar ainda mais as áreas de urbanismo tático, que humanizam o espaço público não apenas com novos desenhos no chão, mas com pessoas que se sintam seguras e confortáveis em viver a cidade e com a certeza que a cidade é delas.