Por Cássio Faeddo, em artigo enviado ao blogO que tem ocorrido na atual gestão é o descolamento das lições básicas da política, a exemplo do que ensina Maquiavel.

Por que Bolsonaro não aproveitou as oportunidades fáticas que os desafios na administração pública do Brasil proporcionaram?

Não sabemos se Bolsonaro foi influenciado a não agir racionalmente ou se os demagogos que o cercam não o alertavam a respeito dos disparates e equívocos de sua gestão por interesses outros.

Também não está claro porque desde o início de seu governo, e especialmente na pandemia, Bolsonaro procurou mais o confronto do que a popularidade realizando atos de gestão equilibrados. É fato que se Bolsonaro tivesse dado agilidade na aquisição de vacinas - como fez Trump, em meados de 2020 - estaria em uma posição muito confortável para reeleição.

A economia aqueceria mais rápido e Bolsonaro teria salvo milhares de pessoas da morte.

Não faltaram articulistas, cientistas, médicos, dentre outros, que alertavam para a necessidade da compra urgente de vacinas.

Tanto faz se fosse Pfizer ou CoronaVac.

A vacinação rápida era o segredo e Bolsonaro falhou.

Não ter entendido ou não ter tentado sequer entender esse processo foi crucial para a derrocada da popularidade de Bolsonaro.

Depender de extremistas no Congresso ou nas ruas não o reelegerá pelas vias democráticas.

Insistir na discussão sobre voto de papel para comprovar o voto eletrônico, neste momento, de forma atabalhoada e intempestiva, apenas o isolará mais a permanecer somente com seu restrito público barulhento.

Nada mais.

Só se justifica se o interesse é apenas causar confronto e confusão.

As eleições de 2020 deram a indicação de que, antes de um candidato de centro político, o eleitor evitou eleger candidatos com discursos que pudessem demonstrar um certo desequilíbrio no agir e falar.

O que tem ocorrido na atual gestão é o descolamento das lições básicas da política, a exemplo do que ensina Maquiavel.

Maquiavel afirma que “é necessário ao príncipe ter o povo como amigo; caso contrário, não terá remédio na adversidade”.

As adversidades não faltam no Brasil no momento.

As pesquisas indicam que Bolsonaro tem desagrado a maioria dos súditos e se apegado ao grupo que restou que se autodenomina como povo.

Na verdade, este “povo” é uma franja radical da extrema direita que causa apenas mais repulsa a maioria moderada.

Outro erro crasso de Bolsonaro é a equivocada compreensão da lição maquiavélica de que entre ser amado e temido é melhor ser temido.

Ocorre que Bolsonaro não é amado nem temido por aqueles que aparecem constantemente nas pesquisas a favor de outros candidatos ou que o rejeitam expressivamente.

Maquiavel também ensina que “(…) um príncipe deve procurar evitar as coisas que o tornam odioso e desprezível, com o que terá cumprido a sua parte e não correrá perigo algum de outras infâmias”.

Ora, o que Bolsonaro tem declarado e causado, especialmente na pandemia?

Não se pode confundir ser temido com ser repulsivo.

Por exemplo, o Presidente recentemente se referiu ao ex-Prefeito Bruno Covas como “aquele que morreu”, esquecendo a comoção apartidária causada pela morte precoce do cidadão Covas.

Um exemplo recente dentre tantas declarações estapafúrdias.

Todo esse histórico indica que o postulante ao cargo de presidente deverá ser um candidato muito equilibrado.

Antes de ser relacionado a uma tendência ideológica, deverá se demonstrar como uma pessoa centrada.

Ser um soberano firme, justo e dedicado a todos os súditos - e não apenas a um grupo, será crucial para o próximo presidente.

Esse novo presidente, amparado nas lições do classicismo grego, deverá sempre lembrar que deverá repelir a corrupção; que a política é a arte do diálogo que visa o bem comum, e que a democracia não é uma concessão de quem detém a força das armas, mas o respeito do povo.

Cássio Faeddo.

Advogado.

Mestre em Direito.

MBA em Relações Internacionais – FGV/SP.