Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Durante três anos Jair Bolsonaro afirmou que as eleições de 2018 haviam sido fraudadas.

Contestado, rebateu afirmando que apresentaria provas.

Na quinta-feira passada, 29 de julho, ocupando suas redes sociais, Sua Excelência pariu um ratão: “Não tenho como provar se as eleições de 2018 foram fraudadas ou não”, se desculpou. “Só tenho indícios”.

E então apresentou recortes de jornais, com reclamações pontuais de eleitores – há anos já desmentidos pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Agora, os ministros do TSE aguardarão até o final dessa semana para que o presidente da República apresente as provas concretas de fraude que prometeu, no pleito, vale recordar, que o elegeu para o cargo.

Do contrário, Bolsonaro pode ser processado por colocar a segurança nacional em risco, ao atacar a lisura de uma disputa limpa.

Por que Sua Excelência mentiu e insistiu na mentira durante três anos, a ponto de sofrer a ameaça de um processo?

Será pouco explicar como mais uma fratura de caráter, entre tantas outras.

Em parte é isso, porém é muito mais: Jair Bolsonaro, o pior presidente da história do Brasil, está apavorado com a possibilidade crescente de ser derrotado no próximo ano.

Para evitar a derrota, a mentira é um dos recursos – na verdade, um velho recurso.

Ainda na campanha, um grande esforço de propaganda foi empregado na organização de uma gigantesca rede social para enxovalhar os adversários com mentiras e falsificações de documentos.

Rede organizada com o assessoramento da equipe de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, que vencera a disputa destratando Hillary Clinton.

Como se sabe, Trump se tornou o mentor espiritual de Bolsonaro.

Em meados de 2020, quando os primeiros casos de covid-19 começaram a se multiplicar, Bolsonaro proferiu sua grande mentira inaugural: “É só uma gripezinha”.

Sendo assim, não foram abertas negociações internacionais para compra de vacinas; organizado um sistema nacional de combate à pandemia; lançadas campanhas de orientação à população e fortalecido o sistema emergencial de saúde.

Um conjunto óbvio de providências sanitárias, adotadas nos demais países atacados pelo vírus.

Aqui, Sua Excelência rejeitou os procedimentos indicados por cientistas de todo o mundo e voltou a mentir: para curar a “gripezinha”, o remédio que ele receitava eram comprimidos de cloroquina e hidroxicloroquina.

Segundo testes em laboratórios, os dois medicamentos são comprovadamente ineficazes contra o coronavírus.

Enquanto se debatia a desconhecida vocação clínica do presidente, milhares de brasileiros continuavam a ser infectados e a morrer, principalmente por falta de vacinas.

Quantos poderiam ter sido salvos, se por um tempo não tivesse prevalecido uma grande mentira?

Mentir para permanecer no poder é uma manobra golpista.

No caso do processo eleitoral, Sua Excelência também mente, ao anunciar a fake news da fraude na apuração da eleição de 2018 e ao sustentar – igualmente sem qualquer prova – que a urna eletrônica pode ser raqueada.

Há 25 anos registrando votos digitalizados, testadas e auditadas antes de receber dezenas de milhões de votos, as urnas eletrônicas são garantidoras da democracia no Brasil e reconhecidas mundialmente.

Não por Bolsonaro, que exige o voto impresso em 2022, “do contrário não haverá eleição”.

A ameaça golpista se alia à mentira como método político, este presente desde a campanha de 2018.

O Brasil prometido nos palanques não se tornou realidade depois de dois anos e meio de governo.

Inexistem “nova política”, “economia liberal”, “mais empregos”, “mais segurança”, “reformas estruturais” e “fim da corrupção”.

Nada disso aconteceu, e a corrupção – o mais grave – se transformou em escândalo internacional, com a desenvoltura das quadrilhas de compra de vacinas no Ministério da Saúde.

Para justificar os sucessivos desastres, Jair Bolsonaro manipula justificativas mentirosas.

A última o levou a um confronto azedo com o Supremo Tribunal Federal.

Tentando explicar sua inércia diante da pandemia, ele alegou que os ministros da Corte haviam restringido sua atuação.

Os ministros rebateram em nota oficial, informando aos interessados que, mesmo repetida mil vezes, uma mentira não se torna verdade.

Educados, preferiram não lembrar ao ilustrado presidente da República que a máxima foi criada por Joseph Goebbels, ministro de Propaganda de Adolf Hitler.

Hitler aprendeu a lição e mentiu até se matar, com seu bunker em Berlim cercado pelas tropas soviéticas.

Isolado, liderando um desgoverno, com a popularidade em queda livre, continuar mentindo será uma opção constante para Bolsonaro.

Seu problema é que, todos os dias, o Brasil acorda tendo à frente um Brasil de verdade.

Não o país do delírio bolsonarista em que a inflação desacelera, voltam os investimentos, aparece trabalho para 15 milhões de desempregados, o Pantanal e a floresta amazônica voltam a brotar e seus filhinhos ajudam a esclarecer o assassinato da vereadora Marielle Franco.

E quanto ao general Eduardo Pazuello?

Em reconhecimento dos serviços prestados, irá presidir a Organização Mundial da Saúde.

Ao fundo, ecoará Jair Bolsonaro: “É tudo verdade, é tudo verdade”.