Por Terezinha Nunes, em artigo enviado ao blog Desde o ano 2006 que, com base no caso da farmacêutica Maria da Penha que ficou paraplégica ao ser baleada pelo então marido, o Brasil tem uma lei que pune a violência contra a mulher e o feminicídio (assassinato de mulheres por ódio e discriminação à condição feminina).
A lei recebeu o nome de sua incentivadora, Maria da Penha, que tem andado ao longo dos anos por todo o Brasil e pelo exterior fazendo palestras e denunciando as agressões e assassinatos de mulheres por companheiros machistas e violentos.
Há poucos dias, o Brasil vem debatendo, com a ajuda da força característica das redes sociais, outro caso brutal: o da arquiteta e influenciadora digital Pamella Holanda cujas imagens de vídeo das agressões que sofreu do marido o DJ Ivis ganharam dimensão e geraram revolta de Norte a Sul.
Uma rede de solidariedade a Pamella se formou instantaneamente e o agressor acabou preso.
O agressor de Maria da Penha demorou anos para ser condenado e ficou só alguns meses detido.
Quantas Penhas e Pamellas ainda vão ser agredidas ou morrer até que consigamos avançar no combate à agressão contra mulheres nesse país continental?
O caso de Maria da Penha gerou indignação assim como o de Pamella e estão ajudando a conscientizar as pessoas sobre a necessidade de proteção às mulheres e o enfrentamento aos agressores, mas os passos são lentos e os problemas se multiplicam.
O Brasil ocupa, segundo a ONU, a vergonhosa quinta colocação entre os países onde mais mulheres são assassinadas ano a ano.
Ganha somente para El Salvador, Colombia, Guatemala e Rússia.
No ano passado 105 mil denúncias de maus tratos contra mulheres foram registrados através dos números 180 e 100 disponibilizados pelo Governo Federal para registro de ocorrências desse tipo e para tomada de providências.
O Forum Brasileiro de Segurança Pública registra que uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos sofre violência no país, desde assassinatos até a violência psicológica.
Quando isso vai parar ou se manter em níveis de nação civilizada?
O choro do DJ Ivis que quis se passar por vítima mas, diante das evidências, acabou tendo que confessar seu erro, não comove ninguém sua prisão demonstra que algo de novo pode estar a surgir que é pressão popular sobre os agressores.
Maria da Penha virou uma heroína nessa luta.
Pamella também mas não está sendo fácil.
Demonstrando seu desconforto pela dor que está sentindo ela disse em entrevista: “não queria ser exemplo dessa situação.” Na verdade, os casos que vêm átona são mínimos diante da imensidão da violência praticada.
Maria da Penha e Pamela são de classe média, o que corrobora a tese de que as agressões se dão em todas as classes sociais, mas as estatísticas mostram que a grande maioria das agredidas diariamente são mulheres pretas ou pardas e de baixa renda, ou seja, tremendamente dependentes financeiramente dos agressores.
Se a própria Pamella confessou que não denunciou logo o marido por não saber como poderia criar a filha sozinha, imagine-se o caso das mulheres da periferia que, além de tudo, mesmo separadas vão ter que conviver no mesmo ambiente com os agressores?
Esses casos emblemáticos, porém, trazem a possibilidade de o país levantar o cobertor que no momento esconde as Penhas e Pamellas que não têm chance de ser ouvidas.