A sociedade alemã se acomodou em Hitler Por Cássio Faeddo, em artigo enviado ao blog Após o fracasso da Operação Valkiria, quanto mais Hitler enlouquecia, mais se julgava infalível, invencível e messiânico.
Sua insanidade, cujo único fundamento foi o atendimento de suas vaidades e caprichos perversos, conduziu milhões de seres humanos a morte.
Ao redor de Hitler juntaram-se distintas personalidades, desde o vaidoso Hermann Göring até o fanático Joseph Goebbels, passando pelo frio assassino Heinrich Himmler, o líder das SS, a Polícia do Estado Nazista.
Havia doentes que se identificavam com a loucura de Hitler, mas também havia frustrados que nada seriam na vida se não quando pertencentes a um grupo violento e intolerante como os nazistas.
Porém, havia também pessoas comuns, empresários, profissionais liberais, políticos, banqueiros, dentre outros, que se acomodaram com o crescimento econômico dos primeiros anos do nazismo.
Essas pessoas normalizaram Hitler e o nazismo.
Até mesmo houve quem entendesse que Hitler era um tipo exótico que nenhum mal causaria ao chegar ao poder.
Hitler, para essas pessoas, não era quem gritantemente demonstrava ser, e poderia sair do poder na próxima eleição ou a qualquer tempo se necessário.
Havia também quem se recusava a enxergar o que via, afinal Hitler era um patriota, diferente dos políticos corruptos e incompetentes que causaram o caos alemão.
A sociedade alemã se acomodou em Hitler, e o fato desta acomodação, alimentada por uma massiva propaganda e contrapropaganda, que descolava os alemães mais e mais da realidade, ao mesmo tempo fez arruinar todo o mundo, inclusive a Alemanha.
Em sua insanidade, Hitler foi até o fim na tentativa de desmoralizar Stalin, mas deu causa a milhões de mortos na frustrada e sangrenta batalha de Stalingrado.
Poderia cruzar o Rio Volga por qualquer ponto, mas sua personalidade psicopática o fez invadir Stalingrado.
E foi nessa cidade onde abandonou suas tropas determinando ao seu General Paulus que lutassem até a morte.
Hitler ordenava que seus generais e soldados jamais se entregassem; e sendo infalível, como todos os insanos que assumem o poder, muito dificilmente mudava de opinião.
Nos últimos meses da 2ª Guerra, Hitler deu ordens absurdas no lugar de pedir a rendição, como a que causou a Batalha do Bulge, cujo resultado foi praticamente o extermínio da Wehrmacht, as Forças Armadas da Alemanha.
Nesse momento, surpreendia o fato de que nenhum general tenha se oposto aos delírios de Hitler, mesmo sabendo que suas ordens eram suicidas.
E voltamos aqui à operação Valkiria, atentado de 20 de julho de 1944, cujo resultado frustrado levou à execução do Coronel Clause von Stauffenberg e cerca de 200 outros oficiais que pretendiam assassinar Hitler.
Talvez aqui, no temor de terem o mesmo destino dos insurgentes, habitasse o receio do generalato que acatava cegamente as ordens do Füher.
Não se poderia dizer que a maioria daqueles generais, apesar de nazistas, fossem pessoas ignorantes, mas nenhum se opôs a Hitler já no crepúsculo de seu império.
Por sobreviver a este atentado - e não foi o primeiro, Hitler acreditava mais e mais ser um enviado de Deus com uma missão a cumprir.
Messiânicos acreditam que são sobre-humanos com uma missão divina na Terra.
Nenhum alemão poderia desejar ou imaginar que o sonho de uma Alemanha orgulhosa e grande novamente pudesse causar a morte de milhões de compatriotas, fome generalizada e a destruição de cidades como Dresden e Berlim.
O problema de autocratas e tiranos é o fato de agregarem insanos, inúteis, frustrados, acomodados e oportunistas; ao chegarem ao poder, ninguém mais consegue detê-los, até chegar-se a um epílogo trágico e suicida.
Porém, esse epílogo pode levar décadas e milhares ou milhões de mortes.
Pode até ser o caso de surgirem dinastias, como na Coreia do Norte, para citarmos um exemplo dos tempos contemporâneos.
O fato é que a história se repete em ciclos e nos prega a mesma peça sempre.
Esta peça será encenada até o dia em que aprenderemos seus valiosos ensinamentos.
Cássio Faeddo.
Advogado.
Mestre em Direito.
MBA em Relações Internacionais – FGV/SP.