Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Ganha um picolé de cloroquina, polvilhado com hidroxicloroquina, quem identificar o autor, ou autora, das declarações abaixo: “Ninguém mais aceita esse voto que está aí.
Como vai falar que esse voto é preciso, legal, justo e não fraudado?
A única republiqueta do mundo é a nossa, que aceita essa porcaria de voto impresso.
Tem que ser mudado”.
E segue: “Se o Parlamento aprovar, vai ter voto impresso em 2022 e ponto final.
Não vou nem falar mais nada.
Vai ter voto impresso.
Se não tiver voto impresso é sinal que não vai ter eleição.
O recado está dado”.
Se alguém identificou Jair Bolsonaro como o autor das declarações, habilita-se a degustar o refinado picolé de cloroquina, embora não tenha sido tarefa tão difícil: a construção primorosa das frases e o vocabulário castiço tornam Sua Excelência inconfundível.
Para melhor nomeá-lo faltou apenas um sonoro palavrão, mas certamente ele evitou assustar as criancinhas.
A nova ameaça do presidente da República ao processo democrático (“Se não tiver voto impresso é sinal que não vai ter eleição”) escancara, mais uma vez, o seu medo de uma derrota na disputa do próximo ano.
Acuado pelo desemprego, a estagnação e o isolamento internacional, ele enfrenta agora as investigações da CPI da Covid – que mordem seus calcanhares.
Líder do pior governo da história do Brasil, Bolsonaro vê desidratar o único projeto que de fato o move, a reeleição.
Está disposto a viabilizá-lo a qualquer custo (“Só Deus me tira daqui”) e, nesse sentido, tenta desde já tumultuar o pleito de 2022.
A insistência descabida do voto impresso é um dos caminhos.
São inúmeros os atestados – inclusive perícias da Polícia Federal - de que as urnas eletrônicas, usadas no Brasil há 25 anos, são confiáveis e uma garantia da lisura do processo democrático.
Não interessam a Sua Excelência, portanto.
Sua articulação antidemocrática ganhou força com a tentativa de golpe do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para impedir a posse no cargo de Joe Biden, seu adversário.
Trump alegou que sua derrota fora uma fraude e incitou seguidores a invadir o Senado norte-americano.
Morreram cinco pessoas e mais de 500 foram presas.
Bolsonaro foi um dos últimos chefes de Estado a reconhecer a vitória de Biden e um dos poucos a se alinhar a Tump na contestação do resultado.
Não por acaso, é tratado pelo novo presidente dos Estados Unidos com diplomático desprezo.
Ele poderá ir além de Donald Trump, seu mentor político e espiritual?
As milícias bolsonaristas estão chegando lá: lançaram rojões contra o Supremo Tribunal Federal; defendem a volta da ditadura militar e usam as redes sociais para ameaçar de morte adversários políticos do presidente.
Aceitariam pacificamente a derrota de Sua Excelência em 2022? É preciso ter fé, força e otimismo para acreditar que, derrotado, Jair Bolsonaro passará a faixa presidencial ao seu sucessor, de acordo com as regras democráticas.
No entanto, mais do que nunca, é urgente ter fé, força e otimismo.
Salvar o Brasil da tragédia em que está mergulhado é dever de todos.