Por Priscila Krause, em artigo exclsuivo para o blog A proposta da Prefeitura do Recife de incluir espaços públicos de uso intensivo, como parques e praças, num programa de parcerias público-privadas (PPP) pode ser vista como um avanço conceitual dos socialistas, na direção da boa prática liberal.
Afinal de contas, imagine-se a celeuma se tal possibilidade viesse postulada por um governo classificado como de centro-direita em Pernambuco – haveria barricadas de protestos na Praça de Casa Forte, contra a mera menção da gestão privada!
O avanço deve ser registrado.
E não se trata apenas de reconhecimento da incapacidade gerencial para efetuar a manutenção dos equipamentos públicos utilizados pela população.
A esse reconhecimento deve-se juntar a evidência de uma nítida priorização da administração pelos espaços de lazer, em detrimento de outros, como a habitação, os canais e as ruas da cidade.
Mais uma vez, caso tal nível de prioridade acometesse um governo liberal, o escândalo seria posto com ares de grave denúncia.
Mas quando a gestão “socialista” prefere investir mais de R$ 40 milhões num parque à beira do rio, para uma fatia de classe média alta da capital – ou do capital – recifense, nem a destruição ambiental é problema.
Estou falando, sim, do Parque dos Graças.
E vale dizer que o montante de recursos é alto, se comparado ao que a Prefeitura afirma aplicar na limpeza dos canais, anualmente, por exemplo.
E os canais vivem sujos.
A privatização dos parques e praças chega em boa hora, para dar conta dessa inversão de prioridades.
E liberar os planejadores e o orçamento para problemas um pouco mais reais, como a vergonhosa persistência das palafitas e dos moradores de rua no Recife. É com a população carente e com as comunidades vulneráveis que a Prefeitura tem que se preocupar.
Com a educação de crianças e jovens.
Com a segurança do cidadão recifense, que não pode sair de casa sem medo.
Com a limpeza urbana deficiente nos bairros pobres, e a falta de saneamento que joga a qualidade de vida para baixo.
E muitos outros problemas.
A parceria com a iniciativa privada é interessante, e o prefeito João Campos merece aplauso pela iniciativa.
Cabe à oposição, agora, cobrar para que não se leve oito anos para tirarem o programa do papel.
E acompanhar de perto o processo de transferência de responsabilidades e recursos financeiros com esse propósito.
Mas o melhor será ver não somente a privatização da gestão dos espaços públicos funcionar – o que os recifenses desejam, mesmo, é que sirva para desinverter a prioridade do governo, voltando a gestão para a direção correta das demandas coletivas da maioria.
Priscila Krause é deputada estadual (DEM)