Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Na aprazível pista de equitação do 1º Regimento da Cavalaria de Guardas, em Brasília, grupamento do Exército responsável por guarnecer o Palácio do Planalto, de vez em quando cavalga um grupo de generais. É formado pelos ex-comandantes Marcelo Pimenta de Souza, Paulo Chagas, Sérgio Etchegoyen e Edson Pujol, este até poucas semanas comandante do Exército.

Conversam certamente sobre cavalos, um gosto comum.

No entanto, com frequência, outro tema tem se incorporado à rotina dos trotes: a necessidade de se construir, democraticamente, uma terceira via, de confiança das Forças Armadas, nas eleições presidenciais de 2022, capaz de vencer Lula e Bolsonaro.

O nome dessa terceira via é Hamilton Mourão, vice-presidente da República.

Leal e disciplinado, Mourão reitera que não disputará contra o presidente, irredutível candidato à reeleição.

Contudo, são imprevisíveis os efeitos da CPI da Covid sobre o projeto de Bolsonaro no próximo ano.

Ele pode ser desmontado pela investigação dos senadores e se tornar descartável em seu papel de obstáculo ao retorno da centro-esquerda ao poder.

Os seus padrinhos buscarão então um substituto.

Poderá ser Hamilton Mourão, com a sustentação do centro-direita militar.

Bolsonaro perde cada vez mais fôlego nesse importante e majoritário segmento verde-oliva.

São muitos os motivos, a começar pelo desastre da administração, na qual apostavam suas cartas os generais.

Alinham-se outras razões: o morticínio da pandemia; a deterioração da imagem do Brasil no exterior; o descontrole do desemprego e da fome e até mesmo o envolvimento do clã Bolsonaro em episódios de corrupção.

Aprofunda o desconforto dos militares a divulgação de pesquisas, como a publicada pela revista “Exame”, em março, sobre o prestígio de instituições nacionais junto à população.

Nela, as Forças Armadas ocupam o último lugar, com percentual de 1% - desempenho nunca antes registrado.

O projeto Mourão, como é natural, não tem apoio unânime.

O principal núcleo de reação é formado pelos generais Braga Neto (ministro da Defesa); Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (ministro da Casa Civil), empenhados na reeleição de Bolsonaro.

Porém, na reserva, não teriam tanta influência sobre os comandantes da ativa – ao contrário do ex- comandante do Exército, Edson Pujol, adversário do presidente.

Caso a crise política se agrave, a posição de outros altos oficiais no governo é uma incógnita.

Tenderiam a seguir os generais da reserva, empenhados na construção da terceira via. “É o caminho que nos resta”, enfatiza um ex-ministro militar do governo de Michel Temer. “Do contrário, se a escolha for Lula ou Bolsonaro, só vai restar sentar na calçada e abrir o choro”.

Seja Hamilton Mourão ou outro nome, a viabilização de uma terceira via interessa a quem procura alternativas à polarização.

Segundo as simulações estatísticas, há espaço para tanto: pela direita, Bolsonaro teria hoje cerca de 30% das intenções de votos; Lula, outros 30%.

Sobraria cerca de um terço dos votos, a serem conquistados. É nesse espaço que tentam avançar, por exemplo, Ciro Gomes, João Doria, Tasso Jeresatti e Luciano Huck.

Não é esse o espaço de Hamilton Mourão, um veterano da reserva com discurso de centro-direita.

No entanto, seu espaço também não é o de Bolsonaro, pela direita, nem o de Lula, pela esquerda.

Silencioso, ele está bem posicionado, providência básica no início de qualquer campanha.

Se a confrontação se radicalizar entre lulistas e bolsonaristas – o que é provável acontecer –, as cavalgadas dos generais terão chegado ao destino inicial.