Por Márcio Coimbra, em artigo enviado ao blog Quando observamos uma pesquisa eleitoral, a maioria sempre diz que estamos vendo um retrato do momento.

Não deixa de ser verdade, mas a soma de várias pesquisas nos fornece a noção de movimento.

Este é o elemento essencial para entender a dinâmica eleitoral e a tendência do eleitor.

O agregado de várias pesquisas, de institutos diversos, nos ajuda a compreender esta linha temporal e fornece a senha para conseguir prever o resultado de um pleito.

A tendência recente ficou nítida ainda no final de 2015, quando as pesquisas mostravam que o sentimento de ruptura do eleitor com o sistema tornava-se uma realidade.

Depois das manifestações de 2013, havia um vácuo político para ser ocupado na medida que o eleitor sedimentava o desejo de mudança.

O apoio diante da Operação Lava Jato, impeachment e a chegada dos outsiders nas prefeituras deixou claro o caminho para onde se dirigia o país.

Quando disse que fechávamos um ciclo de 30 anos e que novamente um insider com pinta de outsider poderia vencer, assim como fez Jânio, Collor e Getúlio (que não venceu, mas assumiu o poder), muitos falaram que estava equivocado e um nome como Bolsonaro, que considerava favorito, sequer chegaria ao segundo turno.

O resultado é conhecido por todos.

Mais do que dialogar com pleito anterior, 2018 foi um retrato fiel da eleição de 1989.

Sempre fiz esta leitura.

Assim nos perguntamos o que esperar de 2022.

As pesquisas nos mostram claramente o movimento do eleitor.

Diferente de 2018, não estamos diante de um caminho de renovação na política, mas de acomodação do quadro eleitoral.

O pleito de 2020 nos mostrou que o eleitor busca gestores conhecidos, que exercem aquilo que se chama de política de resultados.

O advento da pandemia somente aprofundou este movimento, que deseja menos retórica e narrativas e mais soluções reais.

As eleições de 2022 não dialogam com 1989 ou mesmo 2018.

No próximo ano, aquele que souber vender esperança, coloca-se em vantagem, assim como os políticos que possuem resultados reais para mostrar.

Se conseguir agregar ambos, as chances são enormes.

O eleitor afasta-se da retórica e do sentimento de renovação e busca um porto seguro em gestores com passado de realizações para encontrar caminhos que tirem o país do drama da pandemia e dos desacertos na economia.

Este é o movimento que vemos da soma de momentos de cada pesquisa.

Possuímos três vetores.

O desgaste do atual governo contrasta com a ascensão do lulismo nas pesquisas e o espaço aberto para uma força de centro encontrar sintonia com o eleitor.

Esta é a tendência mostrada pelas sondagens.

Este será um pleito pautado tanto pelos resultados na gestão da pandemia, assim como da economia e a percepção das gestões passadas dos postulantes ao cargo.

Certamente as pesquisas são um retrato do momento, mas seu movimento ao longo do tempo nos deixa claro que o eleitorado brasileiro estará diante de um caminho consistente para 2022.

Confirmando-se a tendência, com as cartas que estão na mesa, já é possível vislumbrar para onde caminhará o país a partir de 2023.

Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).

Ex-Diretor da Apex-Brasil.

Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.