Por Márcio Coimbra, em artigo enviado ao blog O bolsonarismo inaugurou o modo petista de governar pela direita.

O método é o mesmo, apesar dos sinais trocados.

Se baseia em uma visão binária de mundo que consiste apenas em duas metades.

Aqueles que não são bolsonaristas, são comunistas, e os que optam por não ser petistas, são taxados de fascistas.

Não existe espaço para a ponderação, razão e entendimento.

O modelo mental é de destruição do oponente, jamais de construção de soluções.

Em qualquer ambiente desta polarização, quem não está do meu lado não é considerado adversário, mas um inimigo a ser destruído.

Por certo, as redes sociais deram voz a uma grande parcela da população que não conseguia ser ouvida, entretanto, a qualidade do debate caiu vertiginosamente.

Isto ocorre porque as redes criam bolhas, por meio de algoritmos que atraem os iguais e afastam os divergentes.

Um fenômeno que gera uma falsa sensação de aceitação no todo e que acirra o discurso binário.

Grupos falam para si mesmos e sua bolha artificial.

Ao associarmos o ímpeto de destruição do oponente à falsa sensação de aceite geral, criamos o modelo de discurso político atual.

Como a construção não é objetivo de ambos grupos, a forma moldada de debate político é da deslegitimação do oponente por meio ataques e agressões, que não visa atacar seus argumentos, mas invalidar o interlocutor.

O que menos interessa neste campo é o debate de ideias, prevalecendo sempre a tese de que um grupo é o dono da razão.

Neste caso, a divergência é sempre mais importante do que a convergência.

Assim, se na direita bolsonarista temos um liberal, que concorda com a agenda do governo, mas critica Bolsonaro por não ter avançado nas privatizações, certamente será taxado de traidor, esquerdista ou até mesmo de comunista.

Do outro lado, a mesma coisa, apenas mudando o sinal, com os ataques circulando entre fascistas e xenófobos.

O que importa é divergir, atacar, agredir e se autoafirmar para sua bolha.

O Brasil perde com este movimento raso e simplista, que leva a política para rumos diferentes de seu propósito original.

A política é feita de adversários, não de inimigos, da criação de consensos e da construção de maiorias.

Quando dentro da política, divergência, destruição e rivalidade entram em cena, a democracia se enfraquece e tendências autoritárias, que podem vir da direita ou esquerda, sentem-se mais confortáveis para surgir como alternativas.

Este mecanismo é vantajoso para os radicais, que precisam do polo opositor para sobreviver, um sistema que se retroalimenta da rejeição e do ódio, que funcionam como combustível na arena eleitoral.

Sem antagonistas, o modelo perde tração, quando entram em cena a convergência e a boa política.

Em última instância, quando os radicalismos se fortalecem, a democracia se enfraquece.

Sem os extremos, o sistema encontra sua harmonia.

Não teremos chance de vencer a pandemia, tampouco o caos econômico que se instalou no Brasil, se seguirmos reféns deste pensamento simplista e tosco.

O binarismo político leva à servidão, submissão e cegueira intelectual e política.

O Brasil merece mais do que isso.

Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).

Ex-Diretor da Apex-Brasil.

Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.