Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Segundo o Datafolha, conceituado instituto de pesquisa de opinião, 67% dos brasileiros acham que a corrupção vai aumentar no País.
A expectativa negativa anterior, de dezembro passado, era de 55%.
Bem antes, no início do governo de Jair Bolsonaro, fora de 40%.
O pessimismo aferido agora pelo Datafolha é pior entre as mulheres (74%) e os pobres (73%), maiores contingentes da população.
Os índices são ruins para o presidente, que fez do combate à corrupção um dos eixos de sua campanha em 2018.
No governo, buscou associar-se ao êxito da Operação Lava Jato, incorporando ao ministério o juiz Sergio Moro, símbolo nacional do combate aos grandes larápios.
A manobra fracassou.
Moro, nomeado ministro da Justiça, deixou o governo, criticando interferência ilegal de Bolsonaro na Polícia Federal; o presidente se aliou a parlamentares investigados pela Lava Jato e seus quatro filhos deram o fecho final.
Conhecidos como 01, 02, 03 e 04, são suspeitos de desvio de recursos públicos, contratação de funcionários fantasmas, compra de imóveis com pagamento em dinheiro vivo, tráfico de influência e organização de manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Com certeza, tamanha diversidade não haverá em outra família presidencial.
A saber: Jair Renan Bolsonaro, 23 anos, empresário, o filho 04, é investigado pela Polícia Federal, suspeito de tráfico de influência.
Teria articulado um encontro de um grupo de empresários amigos com o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, para apresentação de um projeto.
De acordo com a investigação, pelo serviço Jair Renan recebeu um carro elétrico, no valor estimado de R$ 90 mil.
Eduardo Bolsonaro, 36 anos, deputado federal, o filho 03, tornou-se alvo de uma investigação preliminar da Procuradoria Geral da República sobre o pagamento, em dinheiro vivo, na compra de dois imóveis no Rio de Janeiro. É também investigado pelo Supremo Tribunal Federal pela participação em atos antidemocráticos e já foi interrogado pela Polícia Federal.
Carlos Bolsonaro, 38 anos, vereador no Rio de Janeiro, é o 02.
Está sendo investigado pelo Ministério Público Estadual por ter empregado funcionários fantasmas em seu gabinete.
Também é alvo da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal por participação em atos antidemocráticos e organização de redes sociais de ataque aos opositores do governo do pai.
Por fim, Flávio Bolsonaro, 39 anos, senador, o 01.
Foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Notável em transações imobiliárias, o seu último feito foi, com o salário de R$ 28 mil de senador, ter adquirido uma mansão em Brasília por R$ 5,9 milhões.
Tais façanhas ganharam o mundo e preocupam o papai, imbatível defensor da lei, da ordem e dos bons costumes.
Especialmente as façanhas do 01, o senador Flávio Bolsonaro e suas ligações extra-parlamentares, como os ex-oficiais da Polícia Militar do Rio Fabricio Queiroz e Adriano Magalhães da Nóbrega.
Acusado de ser operador financeiro de 01, Queiroz está em prisão domiciliar; Nóbrega, miliciano e assassino de aluguel, foi fuzilado no interior da Bahia.
Com a quebra do sigilo de Queiroz, a polícia descobriu que ele depositou R$ 72 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Sua mulher, Márcia de Aguiar Queiroz, depositou mais R$ 17 mil, totalizando R$ 92 mil – dinheiro que Michelle não declarou ao imposto de renda.
A fortuna amelhada por Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio, é outro mistério.
Para os investigadores, ele deixou um patrimônio de R$ 10 milhões em fazendas, imóveis e dinheiro vivo.
Tinha rendimento mensal estimado em R$ 350 mil, resultado da exploração de jogos ilegais, grilagem de terras e venda de apartamentos invadidos em áreas controladas por milicianos.
Recebeu condecoração da Assembleia Legislativa do Rio, por iniciativa de Flávio Bolsonaro, e arrancou o seguinte lamento do papai, ao saber de sua morte: “Foi um herói”.
Não foram poucas as especulações de que o fuzilamento de Nóbrega, pela PM da Bahia, seria uma típica operação de queima de arquivo.
Nada ficou provado.
Sua família não comenta, nem a de Fabricio Queiroz, que se mantém em disciplinada prisão domiciliar.
A ligação dos dois com o clã Bolsonaro, porém, alimenta a sensação – captada pela pesquisa do Datafolha – de que há um cheiro de queimado no ar.
Se isso vai incendiar as urnas presidenciais de 2022 e incorporar a corrupção ao debate eleitoral, há de se assuntar a passagem da massaranduba do tempo.
Em dias tão tumultuados, Fabricio Queiroz, por exemplo, pode decidir quebrar seu precioso silêncio.