Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Neste mês completa-se um ano da confirmação do primeiro caso de covid-19 no Brasil, em São Paulo.
Em 12 meses, uma tragédia sanitária e humanitária – a maior do século – se abateu sobre o país: até o próximo dia 28, estima-se que serão 250 mil mortos e 10 milhões infectados pelo vírus, vítimas de uma política de saúde liderada pelo Presidente Jair Bolsonaro, que tratou com desprezo a pandemia.
O Capitão boicotou medidas de prevenção, como o uso de máscaras; receitou cloroquina, medicamento ineficaz contra a doença; trocou três vezes o Ministro da Saúde; alertado, não agiu em tempo para evitar o horror dos mortos por falta de oxigênio, em Manaus, e zombou quando informado que o número dos que perderam a vida chegara a 100 mil: “E daí?
Quer que eu faça o quê?
Não sou coveiro”.
Os sucessivos episódios culminaram com justa homenagem ao demérito.
Relatório do Lowry Institute, centro de estudos australiano, com avaliação do desempenho de governos de 98 países no enfrentamento da pandemia, colocou a gestão de Bolsonaro em último lugar.
Muito abaixo, entre outros, do Vietnã, que ficou na segunda colocação.
O relatório de 2020 da ONG Human Rights Watch, uma das mais importantes do mundo, confirmou a avaliação australiana: “O Presidente Jair Bolsonaro tentou sabotar medidas de saúde pública destinadas a conter a propagação da pandemia de covid-19, mas o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e os governadores defenderam políticas para proteger os brasileiros da doença”.
O trabalho para proteger, de fato, 213 milhões de brasileiros é gigantesco.
Para vencer a pandemia, 70% - ou seja, 63 milhões – precisam ser vacinados com rapidez.
Até agora, apenas pouco mais de 2% foram imunizados.
Faltam planejamento e logística a fim de que a meta de 70% seja alcançada.
A rede do Sistema Único de Saúde (SUS) tem capacidade de vacinar 1,5 milhão de pessoas por dia, mas só está vacinando 200 mil.
Nessa marcha, serão necessários quatro anos para que toda a população brasileira seja protegida do vírus.
Bolsonaro continua a se comportar à altura da homenagem ao demérito.
Seu governo não tem um plano de mobilização capaz de integrar, ao grande esforço de vacinação, instituições com grande capilaridade junto à população, como as igrejas.
Não há uma campanha massiva de comunicação com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre os benefícios da imunização e combater o bombardeio anti-vacina, principalmente nas redes sociais conservadoras.
E mais: a distribuição de agulhas, seringas e doses que salvariam vidas está contaminada pela disputa eleitoral antecipada.
Assim, é preciso vencer João Doria, governador de São Paulo, adversário em 2022, na corrida maluca para ver quem vacina com maior celeridade.
Enquanto isso, mais de mil pessoas morrem por dia, vítimas da covid-19.
Hoje o Brasil quer, mas não consegue comprar vacinas na quantidade de que precisa: chegou atrasado ao mercado.
Além disso, a demanda mundial cresce aos saltos e, com ela, os preços.
Antes rebarbados, agora os chineses riem, discretamente, relembrando como foram insultados, há meses, pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, o ideólogo do clã, vanguarda do atraso.
Por quanto tempo a pandemia continuará ameaçando homens, mulheres e crianças no Brasil?
Quantos milhares perderão a vida e quantos milhões adoecerão?
Impossível calcular.
Permanecerá o risco do País se tornar um imenso Manaus, obrigado a recorrer de novo à Venezuela para ter oxigênio nos hospitais?
As perguntas assombram o futuro.
A sensação é que as respostas ficarão pairando por um longo tempo.
Erra quem, diante da absurda tragédia sanitária e humanitária, acusa Jair Bolsonaro de crime de responsabilidade.
Ele continua impávido como uma estátua adornada por dejetos de pombos.
Na verdade, a culpa é da fatalidade de se nascer brasileiro, argumentam seus defensores.
Morre-se do vírus ou morre-se da miséria.
São coisas nossas.