Por Márcio Coimbra, em artigo enviado ao blog O Brasil vive o desfecho da mais importante operação anticorrupção da história do país.
Ao mirar na Petrobrás, a Lava Jato descobriu um sofisticado mecanismo de desvios de recursos públicos que atingiu personagens centrais do mundo político brasileiro.
Ao desvendar estes caminhos, os petistas, que governavam o país há mais de uma década, sucumbiram, assim como alguns sócios do consórcio governista.
A Lava Jato levou a população para as ruas em um movimento inédito para um povo que não tem o hábito de protestar.
A indignação do povo brasileiro mexeu com as estruturas políticas e sacudiu a sucessão presidencial.
Na visão da população, ali se daria a grande virada, mudando a dinâmica do jogo e iniciando um novo tempo em nossa democracia, finalmente longe do domínio sistemático da chamada velha política.
Ao movimentar as estruturas políticas nacionais, a Lava Jato tornou-se um capítulo importante de nossa história, assim como a Operação Mãos Limpas transformou-se em episódio ímpar no combate à corrupção do modelo interno de poder na Itália.
Infelizmente, os resultados, tanto lá, quanto aqui, são muito similares.
Apesar do esforço das forças-tarefas, a capacidade de luta e regeneração do sistema mostrou sua face com enorme resiliência.
Em ambos os países, a rejeição da população ao sistema engoliu os partidos políticos tradicionais levando outsiders ao poder.
Neste novo momento da política italiana surgiu Berlusconi e na geopolítica do poder brasileiro emergiu o nome de Bolsonaro.
Ambos conseguiram se viabilizar em uma espécie de discurso de uma nova política, que desprezava métodos tradicionais e pregava uma nova virtude no exercício do poder.
Assim como na Itália, no Brasil, o sistema refluiu para depois voltar com uma força descomunal em união entre esquerda e direita para destruir seus oponentes.
Em Roma, a reação partiu do governo e do parlamento italiano, que promoveram um verdadeiro movimento de restauração, aprovando leis para proteger a classe política e tornar as investigações da magistratura mais difíceis.
Em Brasília, seguimos pelo mesmo caminho.
Assim como no Brasil, a resposta contra a força-tarefa italiana veio por meio de processos e denúncias contra magistrados e procuradores como forma de deslegitimar suas ações e reputações.
Mesmo que improcedentes, serviram para desgastar a imagem dos procuradores e juízes diante da opinião pública.
O movimento se intensificou quando a força-tarefa partia para investigar exatamente aquele que se elegeu no embalo da popularidade da operação e que rejeitava o sistema: Silvio Berlusconi.
Qualquer semelhança é mera coincidência.
Depois de décadas, muitos ainda se perguntam se os resultados políticos da Operação Mãos Limpas foram benéficos para o país, uma vez que a reação levou um populista ao poder.
Ao mesmo tempo, aquele que deveria mudar a política, valeu-se do cargo para restaurar o status quo e blindar o sistema de impunidades italiano.
Antonio Di Pietro, que esteve à frente da operação, diz que hoje os delitos são cometidos com maior inteligência criminal.
Ao olhar para o Brasil, vemos que seguimos os mesmos passos.
Resta ao brasileiro escolher um final diferente para nossa versão desta história.
Se ainda estiver ao nosso alcance, talvez 2022 seja a última oportunidade.
Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).
Ex-Diretor da Apex-Brasil.
Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal