Os olhares do último domingo (07) foram totalmente voltados para o reality BBB 21.
A saída do participante Lucas Penteado tomou conta das redes sociais e trouxe importantes causas sociais a serem discutidas.
Racismo às avessas.
Por Terezinha Nunes O psicanalista Ronaldo Coelho, da capital paulista, chama atenção para o que há de essencial a ser considerado a partir da psicanálise e da análise de instituições para a compreensão do que está rolando.
A avaliação do especialista é que o sofrimento ético-político está em voga como instrumento de entretenimento pro meio de sua espetacularização. “Esse termo é compreendido pela dor mediada pelas injustiças sociais, especialmente caracterizada pelo sentimento de inadequação, de desvalor, de subalternidade e de humilhação”, explica.
Do ponto de vista da psicanálise, Ronaldo compara o pedido de saída do ex-BBB a mesma fuga buscada em casos de suicídio. “No jogo foi possível ao Lucas sair para ser cuidado aqui fora.
E na vida real, como fica?
Muitas vezes a saída que algumas pessoas dão para o sentimento de desaprovação e inadequação social implica no suicídio. É uma forma de desistir do ‘jogo da vida’.”, pontua.
Levando em conta os fatos que fizeram Lucas abandonar o programa, o psicanalista ainda analisa o discurso e sua força para a produção dos sentidos, para além do conteúdo das falas. “É possível verificar que a ideia do lugar de fala foi explorada como instrumento de silenciamento do diferente, como autorização de quem pode e quem não pode falar, e não como a consideração necessária para a atribuição de sentido.
Esse movimento possibilitou que as participantes Lumena e Karol pudessem agir de modo soberano, como quem decide o que é o certo e o errado e qual a punição devida a quem “erra”.
Ao identificar Lucas como monstro, utilizam de todas as estratégias para aniquilá-lo.
Não há uma discussão que promova igualdade de gênero ali.
O Lucas sofreu racismo, bifobia e androginia justamente por quem se coloca como combatente dessas injustiças e violências sociais.
Quando se pensa apenas ‘na causa’ sem se refletir sobre os meios, o oprimido corre o risco de agir como o opressor, e é justamente isso o que está acontecendo no programa.”, afirma. “O espetáculo do programa se encontra em vender como entretenimento o sofrimento, seja este nas provas de resistência, na competitividade levada às mais duras consequências, nas privações de liberdade, de alimentos, de privacidade.
O BBB é hoje a mais refinada reedição do Coliseu, onde pessoas se digladiam até onde for possível suportar, onde sua vida simbólica é deixada aos leões até onde podem suportar.
Tudo isso aos aplausos, angústias e delírio de quem assiste vidrado da arquibancada”. “A psicanálise é a cura da alma pelo cuidado com o sofrimento.
As feridas simbólicas precisam ser tratadas e esse cuidado só é possível pela fala e pela escuta.
As palavras tocam nossos corpos e nos transformam, podem nos fazer adoecer, mas também podem curar.
O analista é aquele que opera não com o bisturi, mas sim com a precisão da palavra.”, afirma.