Embora os novos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tenham definido a reforma tributária como “prioridade para o País”, especialistas acham que eles não terão facilidade para avançar na proposta.
Os rumos e perspectivas do Congresso após a eleição das Mesas Diretoras foram o tema de debate do webinar Arena de Ideias, da In Press Oficina, nesta quinta-feira de manhã. “Pautas mais abrangentes como a reforma tributária e administrativa, ou pautas mais polêmicas, como a privatização da Eletrobrás, são de difícil aprovação.
Há outras pautas não tão profundas ou radicais em termos de efeito na economia ou sociedade que podem andar, como a autonomia do Banco Central, a unificação do PIS / Cofins e a PEC Emergencial”, afirma o jornalista e fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa.
O jornalista e diretor-adjunto de redação do Valor Econômico, Cristiano Romero, disse não acreditar na aprovação da reforma tributária. “Estou muito pessimista.
A reforma tributária eu acho que não acontece de forma alguma, porque mexe nas disputas entre união e estados, união e munícipios, estados e municípios.
E todos eles versus empresas e contribuintes.
O país é muito desequilibrado e existe uma guerra fiscal difícil de resolvera.
Tenho uma visão cética.
O Rodrigo Maia tinha a faca e o queijo para votar [reforma tributária] e não aconteceu”, afirmou Romero.
Anfitriã do Arena de Ideias, a jornalista e sócia-diretora da In Press Oficina, Patrícia Marins, considera que o cenário político atual exige que a população acompanhe de perto o trabalho do Legislativo. “Não podemos deixar para acompanhar o Congresso apenas na véspera da eleição ou quando tem algum fato marcante na política.
Isso tem que estar na nossa agenda diária, assim podemos transformar a sociedade.
Não tem nenhum assunto importante nesse país que não esteja hoje sendo tratado no Congresso Nacional”, alerta.
Com relação à reforma administrativa, o sentimento é que a proposta tem mais chances de ser aprovada, mesmo que parcialmente. “Uma reforma administrativa profunda acho que não.
Mas há uma negociação entre setores da oposição próximos ao funcionalismo e parlamentares que defendem a reforma administrativa.
Um dos pontos foi incluído entre as 35 prioridades, que é restringir os pagamentos acima do teto constitucional.
Essa regulamentação extra teto pode avançar”, acrescenta Sylvio.
Romero concorda e diz que a fragmentação da reforma administrativa pode facilitar a aprovação de alguns pontos específicos. “Na reforma administrativa tomou-se o cuidado de fazer vários projetos separados.
Por isso pode ser que alguma coisa passe”, reforça o jornalista.
Pauta de costumes é incógnita Outro ponto em discussão no Arena de Ideias é a possibilidade de o novo comando da Câmara avançar na chamada pauta de costumes - agenda de projetos de lei que alteram a legislação de temas polêmicos, como o aborto, a descriminalização das drogas ou a posse de armas.
Para Sylvio Costa, ainda há uma incerteza se essa agenda terá espaço na nova gestão do Congresso. “Em relação à pauta de costumes, acho que é uma das maiores incógnitas em relação ao futuro.
O momento ainda não é o eleitoral, a discussão central hoje na política não é a eleição de 2022.
Para a bancada evangélica a pauta de costumes é algo precioso porque ela traz voto.
Aparentemente há um compromisso do Bolsonaro de apoiar, nem que seja no discurso”, afirma Sylvio Costa.
Para Cristiano Romero, entretanto, a agenda de costumes não deverá ganhar espaço sob o comando de Arthur Lira. “A pauta de costumes acho que não vai andar, assim como não vai andar privatização.
E tenho dúvidas sobre a independência do Banco Central, que seria uma decisão importante para o Brasil.
Mas não acho que a pauta de costumes passe.
A sociedade brasileira avançou mais que o estado”, afirmou Romero.