Por Marcio Coimbra, em artigo enviado ao blog O sistema acaba de retomar o poder.
A vitória de Arthur Lira para dirigir a Câmara dos Deputados é uma imposição da realidade. É também sinal que a política resolveu se impor com força e a partir de agora, de forma sistemática, passará ao comando do sistema.
Ao contrário do que se propaga, os parlamentares não entregaram o controle do Congresso ao Planalto, mas para seguir vivo, Bolsonaro entregou o controle do governo aos parlamentares.
Em outras palavras, o presidencialismo de coalizão se impôs.
O modelo é resultado da arquitetura institucional brasileira e está inscrito na Constituição.
Nosso sistema político-eleitoral é o combustível da proliferação de partidos e da criação de um grupo que funciona como sustentáculo de qualquer governo, independente de seu viés ideológico.
O centrão é a base de todos aqueles que passaram pelo Planalto desde a redemocratização.
O grupo não participou da montagem do governo Bolsonaro.
Esperou o presidente encontrar os seus próprios fantasmas e ser confrontado com a realidade real da política.
Quando precisou de governabilidade, procurou os especialistas, prontos a exercer seu papel tradicional de fiadores do governo de plantão.
O custo político da transação é o de sempre: participação na administração em troca de estabilidade política.
Assim sendo, não estamos diante de um período reformista ou de grandes mudanças.
A chegada do grupo ao poder fornece maior estabilidade ao sistema e garantia de que não viveremos aventuras fora da democracia.
O custo é a ausência de reformas profundas nas vetustas estruturas do Estado brasileiro que alimentam estes grupos políticos.
Certamente na agenda não constam privatizações e modernização.
Fato é que Bolsonaro perdeu tinta de sua caneta.
Precisou ceder espaço político para o centrão para que conseguisse terminar seu mandato sem o risco de sofrer um impeachment por colocar em xeque a estrutura do sistema.
Arthur Lira funcionará a partir de agora como um primeiro-ministro, inadmissível, que passará a ocupar espaços e co-governar com Bolsonaro.
O governo ganhou um sócio, talvez majoritário.
A realpolitik se impôs.
Na medida que o tempo passar, o centrão ocupará mais espaços ao mesmo tempo que Bolsonaro perde fôlego.
Um Bolsonaro mais fraco é um centrão mais forte.
Os novos aliados do Planalto sabem que precisam manter o presidente em xeque, porém longe de deixá-lo sem alternativas, apresentado-se sempre como os fiadores de seu mandato.
O risco de Bolsonaro está em perder o controle da pandemia e da economia, deixando o país à deriva e com as ruas pedindo a sua saída.
Neste caso, o impeachment seria um caminho incômodo, porém necessário.
Para evitar o pior, os préstimos do centrão podem ir além, espalhando sua presença por outras pastas.
Bolsonaro terminará o governo muito longe da configuração e das promessas iniciais.
O governo que começou será muito diferente daquele que encerrará seu mandato.
Mudou Bolsonaro ou mudamos nós?
A conferir.
Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).
Ex-Diretor da Apex-Brasil.
Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal