Por Márcio Coimbra, em artigo enviado ao blog Bolsonaro pode não chegar ao segundo turno em 2022.
A previsão pode ser precipitada, dirão alguns, porém, foi o mesmo que ouvi quando disse que Bolsonaro venceria as eleições presidenciais.
Estávamos em 2016.
Fato é que a política tem caminhos curiosos, mas ao observar cenários e padrões de comportamento, tudo indica que o desgaste do presidente impulsionado pelos dados ruins da economia e da pandemia podem condenar seu governo e sua eventual tentativa de reeleição. É aquilo que as pesquisas mostram.
As eleições de 2018 guardavam um elemento especial, uma espécie de onda de renovação que ocorre a cada três décadas.
O mesmo fenômeno havia levado ao poder Fernando Collor em 1989, Jânio Quadros em 1960 e criou as condições para a chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930.
Em todas ocasiões houve troca de ciclo político e o estabelecimento de um novo jogo de forças que duraria cerca de três décadas.
Assim, a eleição de 2018 vem romper com a Nova República e estabelecer um novo equilíbrio de poder.
Longe de liderar este processo, como fez Getúlio Vargas, Jair Bolsonaro posiciona-se apenas como o elemento disruptivo que chega para romper com as antigas estruturas, assim como foram Jânio Quadros e Fernando Collor.
Sem habilidade para lidar nos andares mais altos da política, tende a ser engolido por ela.
Ao rejeitar o debate político no Congresso Nacional em seu primeiro ano e ser tragado pela pandemia no segundo ato, Bolsonaro não entregou reformas, mudanças ou realizações.
Entra na terceira parte de seu mandato com um deficit que beira 1 trilhão, negando a pandemia, com taxas recordes de desemprego e sem recursos para pagar novamente o auxílio emergencial, instrumento que manteve sua popularidade estável em tempos bicudos.
Tudo indica que o presidente entrará no ano final de sua Presidência ferido politicamente, porém ainda acreditando em sua habilidade de virar o jogo.
Bolsonaro é um político intuitivo, mas não um estrategista.
Venceu 2018 a bordo de uma onda que não existe mais. 2022 é um jogo de estratégia, não mais de intuição.
Terá ao seu lado seus fiéis seguidores, porém terá perdido o impulso que o levou até a Presidência, representando o lajavatismo, antipetismo, liberalismo e até o conservadorismo.
O bolsonarismo como fenômeno chega enfraquecido em 2022.
As eleições municipais de 2020 já deram o tom do eleitorado.
Se em 2016 apontava para renovação e inauguração de uma nova política, no ano passado refluiu e reencontrou-se com a realidade.
Ao eleger o centro pragmático e despachar os outsiders que não ofereceram gestão da pandemia, reabilitou a política real e preparou o caminho para a retomada do poder nas eleições gerais.
Uma equação na qual não cabe Bolsonaro.
Caminhamos para um pleito menos emocional e mais racional, sem rupturas ou surpresas.
Assim como nos Estados Unidos, políticos conhecidos e tradicionais tendem a se impor com sua experiência e bom senso.
Políticos que conhecem a máquina e sabem gerar resultados tendem a ter vantagem nas urnas. 1989 está para 2018 assim como 1994 talvez esteja para 2022.
Por tudo isso, talvez tenhamos um presidente que não chegue ao segundo turno.
Comandará a máquina, mas diante de uma combalida situação econômica, é possível que não tenha fôlego para impulsionar sua candidatura.
O eleitorado cansou de aventuras.
Está sofrendo a dor de uma pandemia e o derretimento da economia.
O país precisa de gestão e recuperação.
Precisa de um líder que vá além das narrativas.
O caminho está aberto para sua chegada.
Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).
Ex-Diretor da Apex-Brasil.
Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.