Por Liniker Xavier, em artigo enviado ao blog Entre 2016 e 2020, a representatividade da bancada evangélica na Câmara do Recife encolheu se levarmos em conta a quantidade de votos alcançados nos dois pleitos municipais.

Em 2016, a bancada somou 83.091 votos: Michele Collins (PP), 15.357 votos; Irmã Aimée (PSB), 14.338 votos; Fred Ferreira (PSC), 14.277 votos; Eduardo Marques (PSB), 10.177 votos; Professora Ana Lúcia (PRB), 9.538 votos; Carlos Gueiros (PSB), 8.291 votos; Almir Fernando (PCdoB), 6.852 votos; e Renato Antunes (PSC), 4.261 votos.

Nesta lista, levamos em consideração o evento que comemorou o Dia da Bíblia em dezembro de 2017, quando a bancada apresentou seus integrantes afixando uma placa comemorativa dentro do espaço público e, ao menos supostamente, laico.

Os número podem flutuar para mais ou para menos com a inserção ou exclusão de um ou outro parlamentar que momentaneamente tenha passado pelo grupo.

Os mais de 80 mil votos em 2016 caíram para 66.341 em 2020, uma sangria de quase 20%.

Para além da frieza dos números, há questões bastante significativas, uma delas no pleito para o executivo.

Na reta final da campanha, a maioria das denominações evangélicas tentou eleger Mendonça Filho (DEM) prefeito para evitar um segundo turno entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT).

Falharam.

Em 12 anos, 2020 marcou a primeira eleição em que o vereador mais votado da cidade não foi um evangélico.

Em 2008 e 2012, André Ferreira foi o candidato mais votado dos pleitos.

Em 2016, Michele Collins, da Assembleia de Deus Madureira, teve mais de 15 mil votos.

Em 2020, a parlamentar foi a candidata menos votada de seu partido, com 6.823 votos.

Não ficou de fora da legislatura por pouco menos de 300 votos.

Aline Mariano, do mesmo partido, somou 6.530.

O Recife trocou Michele Collins, evangélica que chegou a ser levada para Comissão de Ética por ter falado em “quebrar a maldição de Iemanjá”, por uma mulher negra e militante de esquerda, Dani Portela, do PSOL, que obteve 14.114 votos.

Terceiro mais bem votado em 2016, Fred Ferreira perdeu 5.870 votos e foi da 3ª para a 14ª colocação.

Também perdeu votos a professora Ana Lúcia, da Igreja Universal.

Foram 1.637 a menos.

Eduardo Marques perdeu 2.471 votos.

Ninguém sangrou mais que Aimée Carvalho (PSB).

A parlamentar foi a segunda colocada em 2016.

Terminou a eleição de 2020 com 3.763 votos.

Mais de dez mil votos perdidos de um pleito para o outro.

Ligada à Assembleia de Deus mais tradicional do estado (IEADPE), a vereadora sofreu inúmeros desgastes e não apenas na política, mas também na denominação evangélica.

Envolvida em uma série de denúncias, a IEADPE vem perdendo lideranças que migram para outros ministérios.

Além disso, Aimée era candidata pelo PSB, partido que, com o bolsonarismo, passou a ser demonizado por fatia considerável dos fiéis da IEADPE.

Antes, a denominação chegou a receber o então governador Eduardo Campos no púlpito de seu Templo Central com aplausos.

Dois casos merecem ser observados ao longo da nova legislatura.

O pastor Júnior Moura, da Assembleia de Deus Novas de Paz, foi o terceiro mais bem votado do pleito em 2020, com 12.207 votos.

Agora chamado Júnior Tércio (a exemplo de Fred Ferreira, ele passou a fazer uso do nome da esposa para concorrer às eleições), o parlamentar surfa na onda do bolsonarismo graças a sua mulher, a deputada estadual Clarissa Tércio, defensora da cloroquina e filha do Pastor Tércio, líder da Assembleia de Deus Novas de Paz.

Também na lista de evangélicos que conseguiram impulsionar seus votos está Renato Antunes, líder da oposição, que ganhou 3.843 votos para a conta, sendo reeleito com 8.104.

Membro da Igreja Apostólica Batista Viva, o parlamentar precisou ir para além da sua denominação em busca da reeleição.

Conseguiu impulsionar a candidatura fazendo oposição um tom acima ao denunciar os supostos abusos do então prefeito Geraldo Júlio.

O fato de ser anti-PSB foi um trunfo importante para Antunes.

Ao menos para o início da nova legislatura, a bancada não perdeu em número de membros, mas perde força e representatividade.

O modus operandi evangélico vai precisar se reinventar se quiser continuar sendo o fiel da balança na hora de negociar com o executivo.

Em 2020, sem termômetro para avaliar o tamanho da sangria, estado e prefeitura cederam à bancada autorizando a abertura dos templos para cultos no auge da pandemia.

Com a popularidade em baixa, os próximos quatro anos vão exigir mais traquejo destes que supõem falar em nome de Deus.

Liniker Xavier é jornalista e doutorando em ciências da religião e mestre em teologia pela Unica