Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog No Brasil, poucas famílias demostram ser tão vocacionadas para a política quanto os Bolsonaro.

O pai, Jair, codinome Zero Zero, é Presidente da República; o primeiro filho, Flávio, o Zero Um, senador pelo Rio de Janeiro; o segundo filho, Carlos, o Zero Dois, vereador no Rio; Eduardo, o Zero Três, deputado federal por São Paulo.

Renan, o quarto filho, o Zero Quatro, ainda não tem mandato mas já está sendo preparado para disputar eleições.

Outro traço é comum aos Bolsonaro: todos estão sendo investigados, seja pelo Ministério Público, Polícia Federal, Polícia Civil do Rio ou pelo Congresso.

No caso do Zero Zero, a investigação envolve o Supremo Tribunal Federal (STF) e apura se ele usou de sua influência para interferir em nomeações na Polícia Federal e na Agência Brasileira de Informação (Abin), em favor de sua família.

Zero Um, o senador, encontra-se encalacrado em inquérito a respeito de desvios de salários de funcionários do seu gabinete, quando deputado estadual no Rio de Janeiro.

O caso gira em torno de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor na Assembleia Legislativa.

Para auxiliá-lo na defesa, até reunião de urgência foi realizada no Palácio do Planalto, em Brasília, com a presença do Presidente da República, do Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional e do Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência.

O vereador Carlos, Zero Dois, o articulador das redes sociais, é investigado pela Polícia Federal por ligações com o chamado Gabinete do Ódio: uma base de extremistas supostamente montada no Palácio do Planalto, encarregada de arruinar reputações de adversários do Presidente.

O Ministério Público do Rio de Janeiro também investiga Carlos, após reportagens apontarem que assessores nomeados em seu gabinete nunca exerceram de fato essas funções.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, é o principal ideólogo de direita do clã e o terror da diplomacia brasileira.

Foi dele a sugestão de fechar o STF, para tanto – na sua avaliação - bastando um jipe, um cabo e um soldado.

Discípulo de Olavo de Carvalho, um astrólogo promovido a guru da família, tem por hábito produzir declarações explosivas.

A última, contra a China, maior parceiro comercial do Brasil, tumultuou as relações entre os dois países.

Candidatou-se a embaixador nos Estados Unidos, entre outras alegações por ter aprendido a falar inglês fritando hambúrgueres no Maine (EUA).

Eduardo e Carlos também são alvos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News.

Em outra frente - uma investigação sobre ataques a membros da corte e do Congresso -, o Supremo Tribunal Federal teve acesso às informações colhidas pela CPMI.

Faltava o caçula Renan, o Zero Quatro – agora não falta mais.

Fotos e vídeos da festa de inauguração de uma empresa de sua propriedade, a Bolsonaro Jr.

Eventos e Mídia, foram realizados, em outubro, pela Astronautas Filmes, gratuitamente.

Seria uma parceria do mercado, não fosse a Astronautas contratada pelo governo Bolsonaro, do qual, apenas neste ano, recebeu R$ 1,4 milhão.

Zero Zero não comenta, mas é evidente que a filharada está ficando cada vez mais trelosa.

Até o momento, as suspeitas de corrupção noticiadas pelos jornais só irritaram profundamente Bolsonaro uma vez, a ponto de ameaçar dar socos na boca de um repórter: questionamentos sobre depósitos suspeitos de R$ 89 mil na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O dinheiro não foi declarado ao imposto de renda, nem explicado pelo Palácio do Planalto.

O combate à corrupção foi um dos mais reiterados compromissos de Zero Zero na campanha presidencial de 2018, junto com os de implantar a “nova política” e o “capitalismo liberal” no Brasil.

Tudo caminha, em marcha batida, para o brejo, ao final de dois anos de uma gestão pandemônica.

O lamaçal crescendo no entorno pode causar graves danos. “Nova política” e “capitalismo liberal” são temas etéreos para a grande massa de eleitores.

O clã sob investigação da polícia, no entanto, pega na veia e fortalece a oposição.

Vai crescer, portanto, a pressão para que o Congresso volte a examinar a possibilidade do impechament do Presidente.

Especialmente se provado que ele mobilizou órgãos públicos para tentar anular o processo que investiga Flávio Bolsonaro.

Decisão de tão grosso calibre está em jogo na sucessão das presidências da Câmara dos Deputados e do Senado, em fevereiro.

O Capitão vai tentar eleger para o comando da Câmara um aliado do Centrão, tentando impedir que seja alvo de um processo parlamentar.

O Centrão – aglomerado de vocações não republicanas – se orienta pelos faróis do poder.

Se o farol de Jair Bolsonaro fraquejar, seus pragmáticos integrantes irão se tornar tão confiáveis quanto um barco furado no alto mar.

Dilma Rousseff entrou nesse barco e deu no que deu.