Por Rodrigo Augusto Prando, em artigo enviado ao blog Certa feita, numa reunião política, um senhor, veterano de campanhas políticas, com vitórias e derrotas, asseverou para todos: “em política, de tudo que vivi, escrevi, o mais importante é estar atento a duas palavrinhas - feeling e timing!
O resto é menos importante”.
O embate do presidente Bolsonaro com o governador de São Paulo João Doria é, sociológica e politicamente, revelador do feeling e timing de cada um, especialmente, no que tange à vacina capaz de imunizar contra o coronavírus.
Neste 07 de dezembro, Doria anunciou que em 25 de janeiro de 2021 iniciará a vacinação em São Paulo para profissionais de saúde, indígenas e quilombolas e todos aqueles que, residentes ou não no estado, buscarem os postos de saúde.
Tal afirmação do governador deu-se sem que a vacina Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, tenha recebido o registro da Anvisa.
Afirmou, ainda, que em 15 de dezembro deste ano, enviará à agência todas as informações científicas atinentes ao processo de desenvolvimento da vacina, bem como aguardará o prazo de 40 dias para que a Anvisa conceda a autorização para iniciar a vacinação.
Com essa atitude, não foram poucos os jornalistas e analistas políticos que indicaram que Doria coloca, no tabuleiro da política, um xeque-mate em relação a Bolsonaro.
Rememore-se que, não faz muito, Bolsonaro, nas redes sociais, comemorou a paralisação dos testes da Coronavac por conta de um óbito, cantando vitória em relação à “vacina do Doria”.
Contudo, pouco após, o óbito foi esclarecido como um suicídio, sem relação direta aos possíveis efeitos colaterais da vacina.
E, no Brasil, com cerca de 177 mil mortos e com elevação no número de contaminados e óbitos que, para especialistas, pode indicar uma segunda onda no bojo da pandemia, o que fez, politicamente, o presidente Bolsonaro?
Em evento, também no dia de ontem, no Palácio do Planalto, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, inauguraram uma exposição dos trajes usados por ambos no dia da posse, em janeiro de 2019.
Como não poderia deixar de ser, o evento recebeu críticas assaz pertinentes, pois, até o momento, não há, por parte do presidente ou do Ministro da Saúde, General Eduardo Pazuello, nenhum sinal acerca de um plano nacional de vacinação.
Pazuello, inclusive, aceitou a “missão” de ser ministro da saúde, pois muito se confiava em sua competência no campo da logística, aspecto imprescindível para uma vacinação em todo o território nacional.
Até agora, seu conhecimento em logística não teve utilidade no ministério que, ao que tudo indica, está à deriva com um ministro que foi - como com os antecessores - desautorizado sucessivas vezes por Bolsonaro.
Assim, ao que tudo indica, a Coronavac está prestes a se tornar realidade em São Paulo e, em contrapartida, a vacina com recursos federais, desenvolvida pela Fiocruz em parceria com Oxford/AstraZeneca, apresenta dificuldades nos procedimentos de pesquisa e, ainda, da necessidade de investimentos mais volumosos do governo federal para construção de uma fábrica capaz de produzir o imunizante.
Neste cenário, prefeitos e governadores já iniciam as tratativas junto ao Instituto Butantan e ao Governo de São Paulo, bem como alguns países já sinalizaram interesse na Coronavac.
Neste caso, estes atores políticos - prefeitos e governadores - há tempos são descrentes de que Bolsonaro exerça uma efetiva liderança política efetiva no combate à pandemia.
Inclusive, pode ocorrer judicialização da vacinação chegando demandas no Supremo Tribunal Federal.
Deixo, ao leitor e à leitora, as duas palavrinhas do início deste escrito: feeling e timing.
Quem - Bolsonaro ou Doria - no que tange à pandemia e à vacina apresenta maior sensibilidade (feeling) e senso de oportunidade e domínio do tempo (timing)?
Como estarão, ambos, eleitoralmente, em 2022?
Veremos.
Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp, FCL.