Um livro que acaba de ser lançado pelo ex-senador Marcondes Gadelha mostra os bastidores da candidatura de Silvio Santos à presidência da República em 1989.
Silvio Santos vai completar 90 anos, no dia 12 de dezembro, e é ainda uma das figuras públicas mais populares do país.
Marcondes Gadelha é médico e foi eleito diversas vezes ao cargo de Deputado Federal.
Também exerceu o cargo de Senador da República e é hoje o presidente do Partido Social Cristão – PSC.
Concorreu à vice-presidência na chapa de Silvio Santos, em 1989, pelo Partido Municipalista Brasileiro – PMB.
Eduardo Cunha no caminho de Sílvio Santos O dia 9 de novembro de 1989 foi uma data importante para o mundo e para o Brasil.
Para o mundo, marcou a queda do muro de Berlim.
No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral barrou por unanimidade a candidatura do apresentador Silvio Santos para concorrer à presidência – candidato até aquele momento com maiores chances para ganhar as eleições.
Por uma filigrana jurídica, o TSE decidiu haver uma falha no registro do partido de Silvio Santos.
Por esse detalhe, o partido não poderia existir, embora estivesse com um candidato, que Silvio iria substituir, fazendo campanha normalmente.
Não havendo partido, não havia candidato.
O livro ressalta que um economista ainda desconhecido na política foi o principal articulador para que isso ocorresse: Eduardo Cunha, que anos mais tarde se tornaria presidente da Câmara.
Essa é uma das informações que o ex-senador, ex-deputado e agora presidente do Partido Social Cristão, Marcondes Gadelha narra no livro Sonho Sequestrado – Silvio Santos e campanha presidencial de 1989 (Matrix Editora, 200 págs, R$ 42,00).
Segundo Gadelha, que concorreu à vice-presidência na chapa de Silvio Santos, o processo eleitoral instaurou-se como uma catarse na alma do povo brasileiro. “A última eleição desse tipo tinha ocorrido em 1960, com a vitória de Jânio Quadros.
Ou seja, toda uma geração passará ao largo das urnas democráticas, já que quem tivesse menos de 47 anos em 1989 nunca tinha votado para presidente da República”, diz. “A versão de que o PMB não cumpriu determinadas exigências legais foi, na verdade, uma engenhosa conspiração para impedir a candidatura do Silvio Santos – que seria imbatível nas urnas.
E havia um pacto em torno de Collor”, segundo Gadelha. “Aquela eleição, portanto, ficou marcada na história do Brasil.
Afinal, Silvio entrou na disputa faltando apenas 12 dias para a votação”.
Articulação De acordo com o livro, sem esperanças de que Aureliano Chaves, o candidato de seu partido (PFL - atual DEM) pudesse mudar o cenário que já parecia encaminhado – um segundo turno entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva –, os então senadores Marcondes Gadelha, Edison Lobão e Hugo Napoleão articularam a ideia de lançar a candidatura de Silvio Santos para presidente.
Numa conversa, Aureliano concordou com a iniciativa.
Tudo parecia acertado para Silvio sair candidato pelo PFL, mas algumas horas depois, o quadro inexplicavelmente mudou: Aureliano Chaves havia mudado de ideia.
Nas andanças por Brasília para viabilizar a candidatura do apresentador, era necessário ainda vencer a presença ostensiva dos jornalistas.
Numa fuga da imprensa, com ares de cinema, Gadelha sai de carro com Silvio, em alta velocidade, para ir a uma reunião. “Ma-ma-ma-mas, Gadelha!
Também temos de morrer para chegar à Presidência da República?” – disse Silvio, conforme as memórias.
A correria por um partido terminou após uma conversa com Armando Corrêa, candidato pelo PMB – Partido Municipalista Brasileiro.
E Armando Corrêa concordou em ceder seu posto.
Como foi lançada cerca de duas semanas antes do primeiro turno das eleições, não era mais possível colocar o nome de Silvio Santos na cédula, porque já havia sido impressa.
Em mais um dos muitos fatos inusitados dessa campanha, era preciso fazer com que o eleitor compreendesse que, para votar no apresentador, teria que marcar o nome de Armando Corrêa na cédula.
Como é ainda uma das figuras públicas mais populares do país, Sílvio Santos é alguém com capacidade de balançar qualquer campanha eleitoral. “E foi o que aconteceu em 1989, mobilizando atitudes drásticas em seus concorrentes que acabaram conseguindo impugnar sua candidatura”, diz Gadelha.