Por Franco Benites, em artigo enviado ao blog O PSB vai testar, mais uma vez, a adoração dos pernambucanos pela família Campos já que, de acordo com o Blog de Jamildo, o partido avalia lançar Pedro Campos como deputado federal.
Pedro, 25 anos, é um dos filhos do ex-governador Eduardo Campos e irmão do prefeito eleito do Recife, João Campos.
Se a notícia divulgada aqui no blog se mostrar verdadeira daqui a dois anos, não se pode dizer que os Campos estejam inventando a roda.
O “familismo político” está para a política brasileira como o bolo de rolo está para o Recife.
Basta lembrarmos que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem um filho senador, outro filho deputado federal e um terceiro que foi reeleito vereador pelo Rio de Janeiro este ano - sem falar que já há planos de emplacar o caçula em eleições futuras.
O familismo político é comum da esquerda à direta, ou vice-versa, de acordo com a preferência do eleitor.
Em Pernambuco, o ex-deputado federal Silvio Costa (Republicanos), por exemplo, tem dois filhos na política: o deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos), com uma longa trajetória eleitoral, e João Paulo Costa (Avante), que se tornou deputado federal em 2018 com 24.789 votos.
Manoel Ferreira (PSC), outro político “das antigas”, também viu dois dos seus filhos seguirem seus passos.
André Ferreira (PSC) hoje é deputado federal e Anderson Ferreira (PL) reelegeu-se prefeito de Jaboatão dos Guararapes este ano.
Fred Ferreira (PSC), cunhado de André e Anderson, conseguiu se eleger vereador em 2016, sendo o terceiro candidato mais votado.
Este ano, caiu para 14ª colocação, mas teve o mandato renovado.
A deputada estadual Priscial Krause (DEM) segue os passos do pai, Gustavo Krause, que há muito tempo não encara as urnas.
O senador Jarbas Vasconcelos (MDB) e o ex-ministro Mendonça Filho (DEM) tentaram eleger os filhos em eleições passadas, mas esses não repetiram nas urnas o sucesso dos pais.
Mendonça, aliás, é ele próprio filho de um ex-deputado federal e começou na política aos 21 anos, em 1987, quando foi eleito o deputado estadual mais novo naquele ano.
Henrique Costa, filho do senador Humberto Costa (PT), também foi testado nas urnas e não se elegeu.
Os exemplos são muitos, antigos e recentes, com histórias de sucesso e insucesso eleitoral.
O cientista político Vanuccio Pimentel tem um ótimo trabalho acadêmico intitulado “A primazia dos clãs: a família na política nordestina”.
O trabalho está disponível no repositório digital da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Caso seja candidato a deputado, Pedro não estará cometendo nenhuma infração eleitoral.
Caberá ao eleitor julgar se vale o voto em um jovem que, embora conviva com a política desde muito cedo, apenas chegou perto das agruras que parte da população vive diariamente como espectador.
Se repetir os passos do irmão, que conseguiu ser eleito prefeito apesar da limitada experiência profissional, e de tantos outros políticos do estado, Pedro já pode pensar no terno da posse.
Pedro, João, Marília ou qualquer outro não podem ser condenados a se afastar da política apenas porque nasceram em “berço de ouro” ou por terem familiares com trajetória no campo de luta eleitoral.
Mas seria bom, uma ilusão, eu sei, que a maioria dos partidos abrisse espaço, com condições justas e igualitárias, para que dezenas de pessoas atuantes na sociedade civil, com currículo extenso nas mais diversas áreas e de origens distintas, pudessem ser candidatas.
O que falta a elas não é competência ou coragem para se candidatar, mas um sobrenome forte e uma estrutura partidária que é canalizada para os “herdeiros” políticos a exemplo do famigerado espólio eleitoral.
Esse negócio de espólio eleitoral, aliás, diz muito sobre a forma como a política é feita no Brasil.
O que movimenta a engrenagem para que os votos tenham um dono, seja em Pernambuco, São Paulo ou Santa Catarina?
Se a eleição de João causou calafrios na oposição, que teme que a extensão do poder do PSB atravesse a década, uma candidatura de Pedro acirrará ainda mais os ânimos na política local.
Se João fizer um excelente mandato como prefeito (e tomara que faça em benefício da população menos favorecia econômica e socialmente) e Pedro mostrar potencial como deputado, os Campos podem impor um domínio inédito dentro do território pernambucano.
Se você é eleitor do PT, DEM e PSDB e desaprova essa hegemonia do PSB, lembre-se: esses partidos contribuíram recentemente e contribuem (no caso do PT) para o projeto político que Eduardo traçou lá atrás.
Franco Benites de Almeida é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade do Minho, em Portugal