Entidades sociais afirmam que a notícia de que o governo Bolsonaro pretende manter o Bolsa Família, incluindo pelo menos mais 3 milhões de famílias nesse programa social, não vai resolver a crítica situação de fome do país caso não ocorra em patamares suficientes.

De acordo com os responsáveis pela campanha “Renda Básica que Queremos”, promovida por quase 300 organizações da sociedade civil, as alterações devem permitir a transição para uma renda básica universal no país.

Segundo Leandro Ferreira, presidente da Rede Brasileira de Renda Básica, uma das entidades participantes da campanha, a alternativa escolhida pelo governo precisa ser implementada com urgência, sem o corte de outros benefícios e permitindo a incorporação de famílias antes contempladas pelo auxílio emergencial, que deixará milhões de pessoas na pobreza depois que for encerrado, em dezembro.

Dados oficiais mostram que 67 milhões de brasileiros recebem atualmente o auxílio.

De acordo com as entidades, a redução à metade, em setembro, já impactou a economia e afetou diretamente as redes de supermercados, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas).

A disparada da inflação de alimentos e a redução do auxílio reduziram as vendas em 10%.

Estudo do IBGE divulgado na quinta (12) mostra que no Brasil mais de 52 milhões vivem na pobreza, com renda de 436 reais por mês, sendo que 13,6 milhões estão na extrema pobreza (são os que vivem com 151 reais/mês). “Só por esses números já é possível perceber como a população está vulnerável”.

Essa vulnerabilidade é percebida de perto por Paola Carvalho, diretora de Relações Institucionais da Rede.

Em uma página de rede social ela mantém contato com as mães que tiveram o auxílio negado ou aguardam a decisão da justiça. “As condições narradas por essas mulheres, que perderam seu emprego, a fonte de renda e também a perspectiva do auxílio, tem obrigado muitas a se prostituírem para garantir o alimento dos filhos.

Para uma pessoa com o mínimo de empatia, é desesperador ouvir cada um dos relatos”, revela.

Leandro Ferreira confirma que estamos presenciando o agravamento da fome, da falta de trabalho, da precarização das relações de trabalho e que metade da população está vulnerável. “Sabemos como o auxílio emergencial socorreu essas pessoas e agora, com o seu fim, o governo simplesmente vai ignorá-las.

O Estado tem obrigação de socorrer essas pessoas, garantindo a elas condições dignas de vida”. É por conta dessa realidade que as quase 300 organizações da sociedade civil criaram a campanha “Renda Básica Que Queremos” para defender uma renda básica permanente capaz de socorrer essa parcela importante da população.

Os recursos para isso, segundo os organizadores, podem ser retirados da taxação aos mais ricos e do próprio desenvolvimento do país, afetado positivamente pelo efeito multiplicador gerado por transferências de renda, por exemplo. “Seria a forma mais justa de fazer com que os que mais ganham no país financiem políticas sociais”, defende Leandro Ferreira.