Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Pesquisas indicam que, em 23 das 26 capitais, os candidatos a prefeito de oposição a Jair Bolsonaro ocupam os primeiros lugares nas 10 principais cidades e deverão ser eleitos ou passar para o segundo turno no próximo domingo.
Apenas em uma delas – Fortaleza – o candidato vinculado ao Presidente, o Capitão Wagner, lidera a disputa, mas nunca usou a imagem de Bolsonaro na campanha.
Não há desempenho tão ruim na memória das eleições municipais mais recentes.
Situação inversa à da disputa de 2018, quando candidatos a governador, senador e deputado se empenharam para ter o apoio ostensivo do Capitão.
A aliança de centro-direita garantiu a Bolsonaro uma forte bancada no Congresso e a vitória de candidatos seus a governador em estados importantes como Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Passados dois anos dos mares de almirante, nada indica que as atuais procelas irão se acalmar até o dia do encontro com as urnas.
Os candidatos bolsonaristas a prefeito deverão ser derrotados em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Cuiabá, Vitória, Florianópolis e Curitiba.
Nessas cidades os candidatos bolsonaristas mal superam 1% das intenções de votos. É o caso do Coronel Feitosa, no Recife, que faz campanha a bordo de um jipe militar, decorado com bandeiras do Brasil e fotos do Presidente.
Tem 2% nas pesquisas.
Deu ruim para o Capitão.
Sem partido, ele armou uma manobra esperta.
Não apoiaria nenhum candidato a prefeito no primeiro turno, ou seja, não seria derrotado na votação inicial.
Aguardaria o segundo turno, avaliaria as possibilidades dos dois oponentes restantes e, então, anunciaria sua escolha.
O problema é que, na maioria das capitais, os dois finalistas vão dispensar o seu apoio.
Significaria certeza de perda de votos.
A manobra mal engendrada pode provocar efeitos negativos no projeto da reeleição em 2022.
O alerta está sendo difundido pela cúpula militar instalada no Governo.
Os generais mostram-se receosos de que derrotas regionais em 15 de novembro corroam a imagem do Presidente.
Seria o caso da derrota do bolsonarista Celso Russomanno, em São Paulo, para o Prefeito Bruno Covas, candidato à reeleição, com o apoio do Governador João Doria.
O Governador é um dos possíveis adversários do Presidente em 2022.
A posição da cúpula ideológica do bolsonarismo, entrincheirada no Palácio do Planalto, é contrária à dos militares: ainda quer que o Presidente peça votos, nesta derradeira semana da campanha, para candidatos nas cidades mais importantes.
O “toma lá, dá cá” poderia, ao menos, assegurar palanques mais seguros em 2022.
A exemplo de tantos outros assuntos, também sobre estratégias eleitorais não convergem militares e ideólogos – antes, durante e às vésperas das urnas.
Bolsonaro mantém o apoio de 30% dos eleitores à sua forma de governar, porém a corrida chega ao final e tamanho patrimônio não se reverteu em votos para seus aliados.
Jair Bolsonaro vai tentar se safar das derrotas, insistindo no argumento de não ter preferências eleitorais.
No entanto, a polarização política, que cultiva desde a posse, vai forçá-lo a tomar partido, ostensivamente, ao menos no segundo turno.
Pode ser derrotado e o revés enfraquecer o projeto da reeleição, sua prioridade.
Abre-se então, mais uma vez, uma janela de oportunidades para a oposição.
Contudo, qual linha vai costurar a unidade das forças de centro – esquerda, que também enfrentam procelas?
Ainda não se sabe.
E enquanto não se sabe, Jair Bolsonaro remenda a vela de seu barco cheio de furos, ajusta o leme para escapar das ondas e tenta chegar a algum porto.