O livro trata do drama de João Pessoa, assassinado pelo adversário político João Dantas, que foi morto na Casa de Detenção do Recife; e a morte de João Suassuna, acusado de cumplicidade no homicídio do então governador da Paraíba, vice na chapa de Getúlio Vargas à presidência da República pela Aliança Liberal.

Os desdobramentos deste episódio levaram à deflagração da Revolução de 30, movimento que neste mês completa 90 anos.

Para marcar a data, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) publica Três homens chamados João – Uma tragédia em 1930, da escritora Ana Maria César.

O lançamento será nesta quinta-feira, dia 22, às 17h30, no canal da Cepe no YouTube, com bate-papo entre a autora e o editor Diogo Guedes.

De acordo com a editora, o livro traz um novo foco sobre o mais importante movimento revolucionário brasileiro, ratificando historicamente a vocação libertária de Pernambuco, que protagonizou a Revolução Pernambucana de 1817, a Convenção do Beberibe, a Confederação do Equador e a Revolução Praieira. “Chego a ver o tumulto da Rua Nova na tarde de 26 de julho (data do assassinato de João Pessoa).

Percebo a agonia de Augusto Caldas (preso injustamente com o cunhado João Dantas) na Casa de Detenção.

Sinto o vento que dança nos cabelos de Ritinha (Rita de Cássia Dantas Villar, mãe do escritor Ariano Suassuna), no Porto do Recife, se despedindo de João Suassuna (que foi à capital, Rio de Janeiro, provar sua inocência, e lá foi morto).

Ouço o martelar da máquina de escrever de João Dantas em Olinda, escrevendo mais um artigo contra João Pessoa.

Acompanho a trajetória de desespero de Anayde Beiriz até o momento final.

E então escrevo.

Porque o que sou mesmo é escritora”, diz Ana Maria. “A fim de apreender armas e munições que pudessem ser usadas numa possível revolta, João Pessoa mandou a polícia revistar as casas dos suspeitos.

No dia 10 de julho de 1930 invadiram o escritório do advogado e jornalista João Dantas”. “Embora a polícia não tenha encontrado armamento, com a intenção de desmoralizar e atingir a honra de João Dantas, o jornal estatal A União iniciou a publicação dos papéis ali apreendidos, cartas e telegramas de familiares e correligionários, peças de processos de constituintes, promissórias, um diário, “confidência da mais repugnante politicagem”, alardeava a folha, descreve a obra.

E no dia 26 de julho, o advogado entrou na Confeitaria Glória, no Recife, onde o presidente da Paraíba se encontrava, e matou João Pessoa com três tiros de revólver.

A comoção popular levou ao movimento armado em 3 de outubro, considerado vitorioso em 24 de outubro.

A escritora recifense ressalta a ancestralidade paraibana e sertaneja. “Meus pais eram fervorosos adeptos da Aliança Liberal.

Quando eu tinha 12 anos, na Praça João Pessoa, meu pai narrou para mim a Revolução de 1930.

Claro que não lembro nada do que ele disse, mas possivelmente aquela narrativa ficou no meu inconsciente como uma epopeia do nosso povo.

Agora me sinto em paz. É como se tivesse cumprido um pacto, contar a história do ângulo dos nossos dois Estados”, destaca Ana Maria.

No prefácio, a professora e escritora pernambucana Margarida Cantarelli, ocupante da cadeira 9 da Academia Pernambucana de Letras, diz que muito já se escreveu sobre a Revolução de 30, mas que a autora conseguiu ir além do que já foi produzido sobre o tema. “Ana conseguiu trazer fatos e interpretações novos ao que se supunha definitivamente esclarecido ou adormecido”, diz.

Sobre o teor dramático da história e sua semelhança com a ficção, a acadêmica lembra o filme da cineasta Tizuka Yamasaki, Parahyba Mulher Macho.

Em 1983, quando Margarida era chefe da Casa Civil do Governo de Pernambuco, presenciou algumas cenas gravadas nas dependências do Palácio do Campo das Princesas.

No elenco, Tânia Alves, como Anayde; Walmor Chagas protagonizava João Pessoa; e Cláudio Marzo, João Dantas.

Em relação à figura de Anayde, Ana Maria conta que pouco se sabia a seu respeito, apenas que havia morrido no Asilo Bom Pastor, no Recife, após ingerir veneno. “Falava-se de uma carta que teria endereçada à mãe, antes de morrer, mas que havia desaparecido.

No entanto, ao tomar conhecimento do meu trabalho, Margarida Cantarelli disse que o inquérito sobre a morte de Anayde, inclusive a carta que escrevera à mãe, encontravam-se no cofre do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.

A importância desses documentos é trazer à luz da História um fato novo, até então desconhecido, prova de que a História não tem ponto final”, destaca a autora.