Por Franco Benites, jornalista, em artigo enviado ao blog A campanha eleitoral no Recife esta semana começou com uma declaração de Marília Arraes (PT) de que pretende “exigir do Estado a retirada do antigo Presídio Aníbal Bruno, atual Complexo Prisional do Curado, da Zona Oeste da cidade”.
A afirmação pegou mal mesmo entre quem está disposto a votar na petista.
Entre os adversários de Marília, o assunto também foi e vem sendo bem explorado - mas já volto a isso.
O que destaco, de início, é que não é nenhuma novidade que os presídios pernambucanos entrem no centro das discussões das eleições.
O fato novo, talvez, é que o tema tenha vindo à tona na campanha para prefeito do Recife quando geralmente ele surge na campanha para o governo estadual.
Quando se candidatou ao governo estadual em 2006, Eduardo Campos prometeu retirar os presídios instalados na Ilha de Itamaracá, no Litoral Norte.
Em outubro de 2009, um ano antes de Eduardo tentar a reeleição para o governo estadual, o Diario Oficial do Estado publicou uma foto do então governador no canteiro de obras do Centro Integrado de Ressocialização (CIR), em Itaquitinga, na Mata Norte, e a manchete “Presídios de Itamaracá desativados em 18 meses”.
O que se viu de lá para cá foi uma série de políticos se aproveitando do tema, garantindo estar trabalhando para retirar os presídios de Itamaracá.
Inúmeros foram os candidatos a prefeitos de cidades do Litoral Norte ou candidatos a deputado garantindo que conversariam diretamente com o governador (tanto Eduardo, quanto Paulo Câmara, eleito em 2014) para agilizar a retirada das unidades prisionais da Ilha.
Em 2015, uma reportagem do Jornal do Commercio trouxe uma declaração mais realista do governador Paulo Câmara: “No momento em que se decidiu construir (o centro de ressocialização) Itaquitinga para se tirar (os presídios de) Itamaracá a realidade era outra.
Aumentou muito o número de presos.
Tínhamos no início do governo Eduardo cerca de 15 mil presos e 12 mil vagas.
Hoje, temos 30 mil presos.
Enquanto não melhorarmos o sistema, não dá para a gente abrir mão de unidades que hoje estão funcionando porque não tem onde se colocar esses presos.
A gente vai ter que conviver ainda um período com Itamaracá tendo os presídios lá funcionando”, disse. É, pois é.
Que os moradores de Itamaracá ou da região onde está instalado o Complexo Prisional do Curado queiram se ver livres das unidades prisionais em sua vizinhança é perfeitamente compreensível.
Mas o que se espera dos candidatos a prefeito do Recife, em 2020, é que deem ao tema uma atenção que vá além de promessas vãs.
Voltando à repercussão das declarações de Marília: nos inúmeros grupos de Whatsapp destinado a debater as eleições do Recife, o tema segue gerando conversações.
Internautas simpáticos à candidatura de João Campos trataram de empurrar Marília para o colo do bolsonarismo, acusando a petista de adotar uma proposta que passa longe das bandeiras da esquerda.
Por sua vez, os adeptos da campanha de Mendonça Filho (DEM), Patrícia Domingos (Podemos) e Alberto Feitosa (PSC) aproveitaram para chamar Marília de oportunista, afirmando que ela quer ganhar a simpatia e o voto dos eleitores de centro ou direita a todo custo.
Dentro da rede de apoiadores de Marília, há quem mantenha o voto na petista, mas ressalte que não gostou dos termos da proposta em relação ao Complexo Prisional do Curado.
As cobranças não têm recaído apenas sobre Marília.
Candidatos do PSOL, partido que ocupará a vice-prefeitura caso Marília seja eleita, estão sendo questionados se compactuam com a declaração da petista.
O argumento é de que, enquanto representante de um campo político progressista, Marília deveria se preocupar com as condições de vida dos detentos dentro do Complexo e também com o impacto social e emocional que o deslocamento do presídio irá gerar às famílias dos apenados.
Há também aqueles que dizem que não é o momento para fogo-amigo, pois o que importa é derrotar o PSB e impedir que a direita chegue à Prefeitura. É verdade que Marília tem sido alvo de ataques dentro do próprio PT, mas a candidata não pode achar que todas as críticas a sua proposta foram orquestradas, pois muitos dos questionamentos foram feitos por pessoas que apenas querem tratar com seriedade um tema que é usado nas eleições sem muito compromisso.
Franco Benites é jornalista e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, em Portugal