Por Avelar Loureiro Filho, em artigo especial para o blog Há pelo menos duas décadas, o sistema de transporte de passageiros da Região Metropolitana do Recife (RMR) vem perdendo usuários e eficiência.
Isto tem levado a um círculo vicioso de contínua deterioração de toda a qualidade da mobilidade urbana.
A falta de um modelo mais moderno e racional pode levar ao total colapso algo que não serve mais adequadamente à sociedade do Grande Recife.
Vários fatores têm contribuído para este quadro de decadência e perda de funcionalidade.
O principal deles é a falta de um planejamento de longo prazo que ataque os seguintes aspectos: modelo de financiamento, priorização do transporte coletivo ante ao individual, introdução do modelo de integração temporal no lugar do físico, utilização de modais adequados aos diversos fluxos e, principalmente, o planejamento do adensamento e formato das cidades.
Temos que conseguir criar outras fontes de receita, além da passagem paga pelo usuário, para viabilizar um sistema que inclua cada vez mais usuários.
Taxação de combustíveis e estacionamentos e utilização de pedágios em algumas vias públicas mais congestionadas em certos horários podem ser algumas alternativas.
Na questão da priorização do transporte coletivo em detrimento do individual, o papel das faixas azuis que dão total preferência aos ônibus é de suma importância.
Temos que acelerar o processo de implantação destes elementos de baixo custo para darmos mais velocidade ao transporte de passageiros e tornar as viagens mais rápidas.
O tempo de gasto no percurso é um ponto crucial na recuperação da demanda.
Para que isto se torne uma realidade, outro fator importante é a adoção de um sistema de integração temporal e não necessariamente físico, evitando deslocamentos em direções opostas ao destino do usuário.
Esta tecnologia já está presente em quase todos os coletivos da nossa metrópole.
Um dos aspectos mais importantes para alcançarmos um sistema eficiente é implementarmos a troca de alguns modais em diversos corredores de transporte já existentes.
O ônibus transporta com eficiência até 50 mil passageiros por direção/dia.
O BRT trabalha bem até 100 mil passageiros.
Acima deste número, só o metrô consegue dar conta.
Na Avenida Agamenon Magalhães, estimasse que cerca de 200 mil passageiros transitem todos os dias nas duas direções.
Já passou da hora de pensarmos em implantar uma linha de metrô no canteiro central da Agamenon, ligando o terminal de Joana Bezerra ao Tacaruna.
Uniríamos o BRT que vem do norte ao metro que vem do sul e do oeste, além do BRT que vem do oeste.
Não temos mais tempo a perder com esta questão. É prioridade zero.
A expansão desta rede de metrô pelos corredores mais adensados como a Avenida Domingos Ferreira e Avenida Norte seriam a sequência natural deste processo de adequação modal.
Por fim, o planejamento do adensamento e formato das cidades que compõem a RMR é de fundamental importância para a eficiência deste sistema de transporte de passageiros.
Centralidades adensadas, autônomas, diversas e inclusivas são a chave para cidades amigáveis ao transporte e à qualidade de vida em geral.
Calçadas mais generosas e bem cuidadas, ciclofaixas e ciclovias dentro destas centralidades, espaços públicos de lazer mais amplos, equipamentos comunitários mais robustos e funcionais são aspectos que também contribuem para a melhoria da mobilidade.
Há uma máxima que diz ser o encurtamento das distâncias a melhor obra de mobilidade.
Para que alcancemos este modelo temos que começar a discutir e planejar a forma de tornar realidade tudo o que foi dito, o mais rapidamente possível. É hora da sociedade fazer essa exigência de forma sistemática aos seus gestores.
Avelar Loureiro Filho é presidente do Movimento Pró-Pernambuco (MPP)