Por Vinícius Carvalho, produtor cultural A retirada da candidatura de Túlio Gadêlha para a disputa da Prefeitura do Recife é uma vitória do status quo, do sistema, do pragmatismo eleitoral, como queiram chamar.
Limado pelo suposto cálculo preciso de que o xadrez em 2020, impactará em 2022, com Ciro como cabeça de chapa e com apoio do PSB, Rede e afins.
O PDT costura uma ampla aliança que passa também por grande apoio à candidaturas do DEM Brasil afora.
Além disso, há rumores que a direção nacional do PSB retiraria o apoio ao PDT em cerca de 25 cidades com mais de 200 mil habitantes caso confirmasse o nome de Túlio em Recife.
Fato é que Túlio, reservadamente, deve estar bem contrariado, já que o potencial da sua candidatura era claro, sendo uma alternativa a mais para o eleitorado progressista.
Para ser eleito não se sabe, mas certamente para se apresentar como um dos principais postulantes do PDT no país.
Difícil que encontre uma conjuntura tão favorável para uma disputa majoritária novamente.
O trator passou na ida e na volta.
Não bastasse o indeferimento da sua candidatura, sua sugestão à vice de João Campos também foi rifada.
Para doer um pouco mais, Isabella de Roldão foi indicada para compor a chapa com João.
A mesma Isabella que sempre defendeu o apoio ao PSB em Recife e era contra a candidatura de Túlio.
Vitória também da “velha política” pedetista de Caruaru, bastante satisfeita com esse desfecho na capital.
Túlio construiu tijolo por tijolo sua candidatura, ganhava musculatura, Ciro enalteceu suas virtudes ao longo dos anos.
Um jovem parlamentar atualizado com as causas contemporâneas, das minorias, anti bolsonarista.
Tudo veio por terra.
A derrota política pareceu mais grave pois a maioria dos seus seguidores fizeram comentários negativos em publicações de notícias ou nas redes do deputado. “Leram” como se ele tivesse aderido à candidatura do PSB, e não o que realmente aconteceu, uma subordinação obrigatória da estratégia nacional do seu partido.
O filme não é novo.
O PT fez escola.
Em 2018 Marília Arraes teve a candidatura indeferida para disputa do Governo do Estado, fez certo sentido pois o PT conseguiu eleger Humberto Costa para o Senado.
Agora, em 2020, a maioria dos principais dirigentes locais do PT, eram contra a candidatura de Marília, o Diretório Nacional dessa vez chancelou.
Em 2012 João da Costa venceu as prévias municipais, mas foi proibido de disputar as eleições daquele ano.
Sequelas até hoje não superadas.
A tese de que para combater o “bolsonarismo” é preciso ter unidade de palanque é contraditória.
Quanto mais gente animada e mobilizada defendendo valores democráticos e direitos humanos, sociais e das minorias, melhor.
Num segundo turno, eventualmente, pode se juntar.
A população terá discernimento para escolher um lado.
Muitas vezes se vota por eliminação, e não por convicção.
Para exercer uma nova forma de fazer política, na prática, os jovens candidatos postos têm que fazer uma debate de alto nível, focado no desenvolvimento da cidade, da defesa da soberania nacional, construindo alguns consensos, sem incorrer na nas clássicas baixarias de ataques pessoais e produção de fake news.
Pode-se observar avanços durante as gestões de Geraldo Júlio, como por exemplo, uma gradativa expansão, embora lenta, da intermodalidade do trânsito, com criação constante de ciclo faixas e corredores exclusivos de ônibus.
Continuidade de políticas públicas, obras, programas e projetos é fundamental.
O debate é diminuído quando se afirma, por exemplo, que a Via Mangue e o Paço do Frevo foram “obras do PSB”.
Qualquer pessoa mais atenta sabe da complexidade dessas obras e que foram inauguradas no início de do primeiro mandato Geraldo Júlio.
Qualquer pessoa intelectualmente honesta sabe que tais obras foram viabilizadas e desenvolvidas durante as gestões do PT com grande aporte do Governo Federal.
Geraldo Júlio concluiu, inaugurou.
Parabéns, prefeito.
Para citar um setor que teve retrocesso, observe-se a área da cultura.
O SIC (Sistema de Incentivo à Cultura) não teve sequer um projeto aprovado e executado durante as gestões de Geraldo Júlio.
O Teatro do Parque está fechado faz mais de dez anos.
O carnaval é um mega evento de curadoria questionável que já passou do tempo de ser completamente reformulado.
Consome muito recurso público e que grande parte escoa para grandes cachês de atrações de fora do estado, que não agregam um turista a mais sequer.
Enfim.
João Campos está correto: juventude não é demérito.
Tem um mandato interessante e já tem uma breve história política, com alguns posicionamentos bem emblemáticos.
Lembremos que em 2014 João pediu votos para Aécio Neves.
Foi publicado aqui mesmo no Blog do Jamildo.
Em 2016, João Campos, ainda sem mandato, estava alinhado com seu partido para a deposição de Dilma durante o processo de impeachment, ao lado de Eduardo Cunha e os Bolsonaro naquela votação.
O PSB foi considerado por muitos como fiel da balança.
Concordo com Túlio, Marília estava certíssima em seguir com a sua candidatura.
As derrotas internas nas estruturas partidárias do PSB e PT a deram-na mais força e convicção.
Mesmo não sendo um quadro histórico do PT, Marília tem tido coerência nos seus posicionamentos e bastante coragem. É inegável o acúmulo, sensibilidade e qualificação para debater e propor para cidade. É importante considerar que a composição com o PSOL também agrega valor, conteúdo e militância para a candidatura.
Túlio, como se diz, combateu o bom combate.