Por Avelar Loureiro Filho, em artigo especial para o blog É inimaginável que, em pleno século XXI, existam comunidades de pessoas que tenham de se deslocar em massa em um movimento pendular diariamente, durando quase duas horas, em média, nessa jornada de ida e volta, indo trabalhar ou buscando serviços.
Pior ainda é saber que, no principal centro de trabalho e prestação de serviços, há moradias ociosas e espaço para muitas outras.
Isto ocorre com a Região Metropolitana do Recife (RMR) e com várias outras no Brasil.
A origem deste processo está na forma como se deu a urbanização acelerada da nossa metrópole com o forte êxodo rural que houve na segunda metade do século XX.
Quando o contingente vindo do campo chegou, fugindo da seca muitas vezes e da miséria quase sempre, encontrou as áreas centrais do Grande Recife já ocupadas.
Era o auge do glamour de se morar e trabalhar nos bairros da Boa Vista, Santo Antônio e São José.
A Avenida Guararapes era o Coração do Recife.
Só restou aos imigrantes ocupar os morros e alagados periféricos, geralmente, sem nenhum planejamento ou infraestrutura.
Os prédios do centro do Recife, muitos dos anos 40, 50 e 60 do século passado, com o decorrer do tempo, ficaram obsoletos.
A remodelagem ou até a construção de novos edifícios mais modernos foi, em muitos casos, dificultada pela legislação urbanística ou de preservação histórica.
Não conseguimos encontrar uma equação que equilibrasse o urbanístico, o histórico e o viável economicamente.
Além disso, o caótico sistema de transporte público de passageiros, quase inviável no Centro, apressou o movimento de decadência.
Com o passar do tempo, Boa Viagem, que tinha uma certa lógica de urbanismo e ocupação, foi tomando lugar de relevância no contexto de centralidade de moradia e prestação de serviços.
Mais adiante, Jaboatão, Olinda e Paulista aceleraram seus processos de desenvolvimento de centralidades, esvaziando ainda mais o papel do centro do Recife.
Sobraram quase que exclusivamente as atividades ligadas ao Governo Estadual e à Prefeitura do Recife.
Na borda sudoeste da área central do Recife, na Ilha do Leite, surgiu um polo médico, muito ligado a primeira perimetral, da qual a Avenida Agamenon Magalhães faz parte, que une várias centralidades como Jaboatão, Olinda e Paulista.
Com o esvaziamento de moradias, sobraram apenas além das repartições públicas algumas atividades de comércio diurno e poucas instituições de ensino.
Mesmo assim, fazendo com que muitas pessoas tenham que se deslocar para o Centro durante o dia.
Não temos que ficar condenados a esse movimento pendular na mobilidade para sempre.
Para revertermos este quadro e minorarmos o problema de deslocamentos desnecessários, o que piora em muito a situação do trânsito na RMR, além da qualidade de vida das pessoas que moram nas regiões periféricas, temos que unir os urbanistas, utilizadores dos serviços e trabalhadores, os reguladores das questões de mobilidade, urbanísticas e históricas, além dos que constroem a cidade, afim de encontrarmos a solução para esta equação.
Uma solução que incentive e propicie oportunidade de moradia às pessoas que precisam e queiram habitar novamente esta área esvaziada pelo abandono.
O Movimento Pró-Pernambuco (MPP) está tentando unir todos estes atores para achar novos caminhos.
Soluções existem, equilíbrio é a palavra de ordem!
Avelar Loureiro Filho é presidente do Movimento Pró-Pernambuco (MPP)