Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Simbólicos laços ligam o Presidente Jair Bolsonaro ao ex-Governador de São Paulo e ex-Prefeito da capital do estado, Paulo Salim Maluf.
Um deles é o entusiasmado apoio ao Golpe de 1964.
Outro, o ódio a repórteres questionadores, embora tratados pelos dois de maneira distinta: aos berros e aos insultos, por Bolsonaro; com um ardil, às vezes cômico, por Maluf.
Sempre descompensado, Bolsonaro chamou os jornalistas de “bundões", no seu peculiar estilo barraqueiro, em solenidade no Palácio do Planalto.
Maluf, que nunca procedeu assim, recorreria ao ardil dos falsos surdos.
Perguntas que lhe incomodavam tinham como resposta frases desconectadas das questões, o que resultava em um diálogo surreal.
Aos 89 anos, o ex-Governador encontra-se em prisão domiciliar, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção e lavagem de dinheiro.
O Presidente, ainda sem condenações, despacha no Palácio do Planalto e reside no Palácio da Alvorada, como se sabe.
Na memória que resta em Maluf estariam os feitos dos tempos da ditadura militar.
Na memória de Bolsonaro, tormentos: são os fatos negativos que se acumulam em pouco mais de 600 dias de poder e que naturalmente provocam as perguntas de repórteres, que ele trata com agressividade.
Para o Presidente, é impossível entender que os jornalistas, ao questioná-lo, estão cumprindo uma obrigação profissional e lhe dando a oportunidade de apresentar suas versões.
A expectativa é que Bolsonaro, ou qualquer outra autoridade, cumpra também a obrigação de prestar esclarecimentos.
No caso do Presidente, são muitos os fatos com explicações insuficientes, a saber: as malfeitorias de seu amigo e assessor Fabrício Queiroz, operador financeiro da família, ligado a milicianos; a notável rentabilidade dos negócios imobiliários do filho, Senador Flavio Bolsonaro, e sua fantástica loja de chocolate; depósitos somando R$ 89 mil, de origens suspeitas, na conta da primeira dama Michelle Bolsonaro; ligações do Deputado Eduardo Bolsonaro, também seu filho, com extremista da direita, e de seu outro filho, Carlos Bolsonaro, com redes de fake news. É uma pauta indigesta, porém o Presidente, que se diz corajoso e viril, está obrigado a encará-la.
Nenhum dos assuntos acima é imaginação dos repórteres.
Decorrem da insuperável capacidade de Bolsonaro, seu clã, assessores e amigos próximos de metralhar os próprios pés.
Se fazem isso com generosa regularidade, como estranhar o interesse da Imprensa, no Brasil e no exterior, em relação a este exótico hábito?
Um desses assuntos irrita profundamente o Presidente, a ponto de fazê-lo ameaçar com socos na boca um repórter: os depósitos suspeitos na conta da primeira dama, feitos pelo multifuncional Fabrício Queiroz.
A operação não foi declarada no imposto de renda, nem explicada pelo Presidente nem pelo Palácio do Planalto.
Queiroz está em prisão domiciliar acusado de desviar recursos de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Com certeza, não é um parceiro financeiro conveniente a Michelle Bolsonaro.
A ilusão do Presidente, comum em mentes autoritárias, é acreditar que suas explosões de ódio e ameaças de retaliações físicas intimidarão os jornalistas.
Longe disso.
Os repórteres continuarão a perguntar, ainda mais quando as suspeitas chegarem ao Ministério Público e à Justiça, como já começa a acontecer.
Além disso, sem dúvida, os mesmos assuntos alcançarão as campanhas eleitorais de 2020 e de 2022, jogando sobre eles os holofotes do debate político.
Será desastroso para Bolsonaro deixar aberto o flanco da corrupção, de que acusa seus opositores e promete combater com prioridade.
E agora, com os depósitos de cheques suspeitos na conta da primeira dama?
A lucratividade da fantástica loja de chocolate do filho Flávio Bolsonaro abre ainda mais o mesmo flanco.
Ao contrário do desempenho de outras do setor, a loja do Senador fatura mais nos meses fora da Páscoa, data que alavanca as vendas de chocolate no Brasil e no mundo.
Além disso, grande parte das vendas é paga com dinheiro vivo, algo assombroso em tempos de cartões de crédito.
E o dinheiro é tanto que permitiu a Flávio, em dois meses de vendas de chocolates, sacar líquidos R$ 180 mil.
O Presidente deve explicações.
No mínimo em respeito ao cargo que ocupa e precisa honrar.
Caso contrário, a cada berro de “bundão” merecerá de volta berro igual, o de “corrupto”.