Continuarão as árvores acenando?

Por Juliana Cunha Barreto, em artigo enviado ao blog Dos vários estabelecimentos de ensino no início do século XX, no Recife, fundava-se aquele inovador, nos preceitos “físicos, intelectuais e morais”: era o Colégio Americano Batista, por iniciativa de missionários norte-americanos.

Em sítio dos arredores do centro comercial, a localidade conhecida por Caminho Novo, também Boa Vista, faceava o Parque Amorim e as proximidades da Estância.

Consistia em uma localização privilegiada pelo potencial logístico, cujas linhas férreas de Recife a Apipucos serviam sua edificação principal, compreendida na generosa quadra entre as estações Caminho Novo e Manguinhos.

Era o ponto de confluência entre o cento expandido do Recife e o subúrbio.

Além dos préstimos locacionais, o sítio resguardava qualidades paisagísticas únicas, em sua condição de chácara, que tanto chamaram a atenção do visitante Renato de Alencar, na década de 1920. “Estaquei, admirando o conjunto daquele paraízo. Área enorme, coberta de um verdíssimo gramado, o grande pomar encerra os seis prédios do soberbo Collegio, onde setecentos alunos bebem a luz do espírito e do coração”.

Também apreciou a dimensão e o frescor das salas de aula, com lousas originais!

Tido como um “grande e excelente parque”, o Colégio reunia edifícios anexos, tais como uma Escola de Belas Artes, os Laboratórios de Física e Química e de História Natural, os prédios do externato e do dormitório das moças, além de dispor de biblioteca, refeitório, pavilhão destinado à ginástica, e oficinas tipográficas.

O prédio principal em muito se assemelha ao tipo arquitetônico da Casa Branca, nos Estados Unidos.

Funcionando originalmente sob a denominação de Colégio Americano Gilreath, admitia alunos aos regimes de internato, semi-internato e externato, de ambos os sexos, desde o jardim da infância até o ensino superior, demonstrado na modalidade clássica e científica, segundo apontamentos da época.

Vaidosa era a oferta do curso de “Comércio”, sob o slogan de “carreira de futuro”, além dos cursos de taquigrafia e datilografia, cujo uso das máquinas “Remington” fazia a alegria da meninada, nos primeiros contatos com a tecnologia.

Também não esqueceram das habilidades lúdicas e literárias, ao ofertarem o ensino de pintura e música e abrigarem o “Centro Literário Joaquim Nabuco”, ao gosto da intelectualidade.

Contribuiu na formação de personalidades recifenses, a exemplo do sociólogo Gilberto Freyre, que por lá cursou Letras.

Preservado intacto ao longo das décadas, mesmo quando a retificação do canal do Derby, com a implantação da av.

Agamenon Magalhães, contribuiu na parcial demolição do Parque Amorim e de sobrados vizinhos, notícias agora informam a implantação de um shopping urbano na área livre do Colégio.

Mas os questionamentos permanecem sempre os mesmos: as demandas realmente não conseguem ser supridas em outras localidades?

E as necessárias áreas verdes, o que serão delas?

Parece que sábio mesmo foi o já citado Renato de Alencar, que desde a década de 1920 anunciava: “De todos os lados, as árvores acenam, amigas”.

Juliana Cunha Barreto é arquiteta e urbanista.

Docente do Centro Universitário UNIFBV