Por José Paulo Cavalcanti Filho, em sua coluna desta sexta no JC Numa conversa com Claude Mauriac, o general De Gaulle confessa que viveu sempre “de xeque em xeque”.

Xeque do jogo de xadrez, claro.

A frase bem poderia ser usada hoje, no Brasil.

Trocando a palavra.

De impeachment em impeachment.

Talvez por isso, para tentar evitar um fim precoce, ande o governo cheio de militares.

Problema é não terem sido treinados para as sutilezas das relações pessoais.

Sobretudo um certo Capitão.

Napoleão (citado por Ravignat) dizia que, na política, “um absurdo não é um obstáculo”.

Como se as baionetas pudessem tudo.

E não podem.

Ou não deveriam poder.

Para ilustrar, lembro Dom Helder Câmara.

Tudo ocorreu assim que chegou, do Rio, para ser Arcebispo Emérito de Olinda e Recife.

Em 12.04.1964.

E logo criou, por aqui, o Banco da Providência.

Para ajudá-lo, convidou as assistentes sociais Ana Maria e Lilia.

Só que não tinha dinheiro para contratá-las.

Dom Lamartine, seu anjo da guarda, encontrando-se casualmente com Paulo Guerra, deixou de propósito escapar que Dom Helder veria com bons olhos a contratação delas pelo Governo.

Para ficar à disposição do Arcebispo, claro.

Paulo Guerra (PSD) foi vice de Arraes (PST).

Com a Redentora, que prendeu Arraes, acabou governador.

E desejava muito atender ao Dom.

Para fazer pontes, num país fraturado.

Mas sabia da dificuldade representada pelo General Justino Alves Bastos, comandante da 7a Região Militar. À época, todo-poderoso em Pernambuco.

E que mandava até na própria sombra.

Dia seguinte, foi procurar Justino. “Dom Helder está pedindo que eu contrate 20 assistentes sociais, General.

Mas comunista eu trato no pau.

E não vou contratar ninguém”.

O militar sorriu, satisfeito: “Muito bem, Governador”.

Conversaram a manhã toda.

Já indo embora, e como quem não quer nada, Paulo Guerra disse: “Sabe o que estou pensando?, General.

Que esse diabo fez o pedido só prá gente negar e ele se dizer perseguido.

Que o senhor acha de a gente contratar duas, em vez de 20?

Ele não iria poder falar em perseguição.

Afinal, contratamos duas”.

Justino, feliz: “Grande ideia, Governador, pode contratar”.

Pouco depois, um magote de meganhas reclamou.

E o General, nos altos do seu orgulho, “Fui eu que mandei”.

Pois é.

A prepotência dos generais nem sempre funciona.

Política se faz longe de cavalos e baionetas.

Tudo é mais sutil.

Requer paciência.

Conversa.

Engenho e arte.