Por Ricardo Leitão, jornalista, em artigo enviado ao blog No final do primeiro turno da eleição de 2018, Jair Bolsonaro tinha aproximadamente 50 milhões de seguidores nas redes sociais, o dobro da soma dos números de seus adversários.

Ferramenta eficiente, nunca usada antes nessa dimensão em eleições presidenciais no Brasil, foi fundamental para o Capitão chegar ao segundo turno e, em seguida, à vitória.

Desde então, o presidente nunca se desconectou das redes, que passou a privilegiar para se comunicar com seus seguidores.

Sob o suposto monitoramento do filho Carlos Bolsonaro, as redes divulgam ações do Governo, estimulam mobilizações e agridem com violência quem for identificado como adversário do “nosso líder”.

A última vítima foi o ex-ministro Sérgio Moro.

Tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) oito ações, impetradas por partidos políticos, acusando a chapa Bolsonaro-Hamilton Mourão de se eleger com o apoio ilegal das redes de fake news.

Impulsionadas por robôs e financiadas por empresários da extrema direita, as redes teriam divulgado milhões de notícias falsas durante a campanha de 2018, com o objetivo de implodir as reputações dos adversários do então candidato.

A confirmação desse crime eleitoral poderia levar à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão pelo TSE.

Caso isso ocorra até 31 de dezembro próximo, assumiria a Presidência da República o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que teria 90 dias para convocar eleições dos substitutos de Bolsonaro e Mourão.

O TSE já começou a julgar a primeira das oito ações.

Os advogados do Capitão tentam – até agora sem sucesso – impedir que fatos descobertos em investigação paralela do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre fake news, sejam compartilhados com o TSE.

O compartilhamento pode deixar ainda mais azedo o caldo servido a Bolsonaro.

O azedume não decorre apenas da contestação do resultado de 2018.

O problema maior, gravemente maior, são as investigações do TSE e do STF chegarem até Carlos Bolsonaro e concluírem ser ele um dos mentores das redes de falsidade.

De Carlos ao Gabinete do Ódio – organização que funcionaria no Palácio do Planalto, especializada em atacar adversários do Presidente – seria apenas mais um passo.

As reações agressivas do Capitão contra operações da Polícia Federal, que prenderam empresários acusados de financiar a rede de fake news, sinalizam tensão do presidente com o assunto.

Sem interlocução com o STF e o TSE, ele sabe que a cassação da sua chapa é uma possibilidade a considerar.

Bolsonaro e o seu caçula Carlos, por exemplo, não devem contar com tratamentos diferenciados da parte do presidente do tribunal eleitoral, Ministro Luís Roberto Barroso.

Em seu discurso de posse, há um mês, disse ele: “Uma das grandes preocupações da Justiça Eleitoral são as campanhas de desinformação, de disseminação de ódio, institucionalmente falsas e deliberadamente propagadas (…)”.

E continuou Barroso: “Na medida em que as redes sociais adquiriram protagonismos no processo eleitoral, passaram a sofrer a atuação determinada de milícias digitais.

São terroristas virtuais que utilizam como tática a violência moral”.

O julgamento das fake news no STF e no TSE, a ter inevitáveis desdobramentos no Congresso em um ano eleitoral, é mais um flanco aberto no lombo de Jair Bolsonaro.

Flanco que merece cuidadosa atenção. É possível que alguém tenha negociado um acordo de delação premiada ou pretenda conceder uma entrevista explosiva.

Computadores já podem ter sido rastreados, além de outros incidentes de percurso.

Não acontecerá nada, acreditam os bolsonaristas de plantão.

Alguma coisa acontecerá, rebatem os oposicionistas.

O futuro está nas mãos dos juízes do STF e do TSE.

E, de alguma forma, também o futuro desta tumultuada etapa da democracia brasileira.