André Eler e Mariana Possari, da BITES - Os protestos marcados para o próximo domingo, especialmente em São Paulo, estão distantes, não apenas dos desejos da oposição ao presidente Jair Bolsonaro, mas também podem não corresponderem às atuais demandas da opinião pública digital do Brasil.

Os organizadores das manifestações querem repetir os atos da semana passada em defesa da democracia, mas nos últimos dias, essa pauta, mesmo diante da sua importância, ficou em segundo plano em função de discussões assertivas e contundentes contra o racismo estrutural no Brasil.

As contínuas manifestações nos Estados Unidos contra o assassinato pela polícia de George Floyd e a morte do menino Miguel no Recife, que caiu de um prédio após ficar sob os cuidados da dona da casa na qual sua mãe era emprega doméstica, podem influenciar a dinâmica dos atos desse final de semana.

Nos últimos sete dias, o tema do racismo se tornou o centro do debate digital no Brasil e no mundo.

Entre os usuários do Twitter no País, a palavra-chave foi utilizada mais de 1,1 milhão de vezes no Twitter contra 963 mil para democracia.

A hashtag #justicapormiguel que morreu após cair de um prédio de luxo na capital pernambucana foi utilizada em cerca de 400 mil tweets.

Outra expressão associada ao tema do racismo # #BlackLivesMatter, também foi utilizada em 1 milhão de twweets desde domingo 31 de maio.

A petição que pede justiça para a criança já tem 2,2 milhões de assinaturas e é a petição mais popular dos últimos 100 abaixo-assinados do site Change.org.

Os sites de jornalismo profissional e alternativos publicaram nos últimos sete dias 1.332 artigos sobre democracia e 3.338 com narrativas em torno do tema do racismo.

No Google, quando se compara quem faz consultas no Brasil, o interesse médio sobre racismo ficou em 44 na escala de vai de zero a 100.

Fascismo ficou com 17, democracia com 14, e protestos com a menor taxa na casa de 12.

Além dessa questão estrutural do racismo, os paulistas ainda estão tentando entender o alcance das medidas de suavização da quarentena.

As vítimas do Covid-19 continuam lotando os hospitais, especialmente as unidades da periferia, e a taxa de isolamento na cidade está em queda.

Hoje, dia 05, chegou a 49%.

Sem o campo adversário unificado e organizado, a rede bolsonarista está mais preocupada em defender o primeiro-escalão ideológico e apontar a sua bateria digital para os governadores críticos do presidente, especialmente João Doria, como identificado nos Trending Topics com a #BolsonaroHeroiDaDireita, #FechadosComWeintraub e #DoriaACasaCaiu.