No final de 2019, as expectativas para o crescimento econômico brasileiro em 2020 eram positivas.
Apesar de conservadoras, com a previsão de um aumento de 2% no PIB, as promessas de aprovação de reformas e até mesmo o desempenho da Bolsa de Valores sustentavam o otimismo nos resultados.
Para Vladimir Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, “esse otimismo surgiu já que, após a desaceleração da economia e dois anos de profunda recessão, seguidos de uma lenta recuperação, os últimos anos, trouxeram um esforço para conter o crescimento da despesa pública e conduzir reformas estruturantes que serviriam para gerar, no futuro, superávits primários e diminuir o ritmo de crescimento, ou até mesmo, reduzir a relação da dívida pública interna em relação ao PIB”.
Contudo, 2020 trouxe algo que ninguém esperava, ou como diria o autor libanês Nicholas Nassim Taleb, um cisne negro: a pandemia de Covid-19, um novo coronavírus.
Essa variação de um tipo de coronavírus, surgiu inicialmente na cidade de Wuhan, China, e assim que se espalhou para a Europa ficou fácil de prever sua chegada no Brasil.
Só não era possível prever os efeitos disso na economia e nas mudanças de vida da população.
Para se ter uma ideia, segundo as Perspectivas Econômicas Mundiais, de outubro de 2019, do Fundo Monetário Internacional - FMI, os países avançados economicamente apontavam um crescimento médio em 2020 de 1,7%, com uma projeção média anual para 2020-2024 de 1,8%.
Os três maiores em crescimento estão Austrália (2,3%), Coreia do Sul (2,2%) Estados Unidos (2,1%), à frente do bloco mais rico do mundo.
Já na grade dos emergentes, países que englobam quatro continentes, indica um crescimento médio de 3,4% em 2020, com uma projeção média anual para 2020-2024 de 3,71%.
O Brasil se encontra da 19ª posição, com Índia (7%), Senegal (6,8%), Filipinas (6%), Egito (5,9), China (5%) nas primeiras colocações.
O país está à frente apenas da Rússia (1,9%), México (1,3%) e África do Sul (1,1%).
Até ser lançada a publicação The Economy in the Time of Covid-19, do Banco Mundial.
A pausa parcial na atividade econômica em 2020 deve causar uma queda de 5% no PIB brasileiro.
Um dos piores desempenhos macroeconômicos esperados na América Latina.
Para Maciel, o cenário atual é complicado “as medidas de apoio à área de saúde, à atividade econômica e a política de transferência de renda à população mais vulnerável têm efeitos sobre o endividamento público porque representam despesas adicionais sem contrapartida de receita.
Ou seja, a transferência de todos os problemas fiscais e o endividamento público dos entes federativos para o governo federal resultará numa explosão da dívida pública”.
Dessa forma, surge um risco para o país, que é o Governo Federal tomar atitudes populistas e inconsequentes.
Como por exemplo, o anúncio do programa Pró-Brasil, anunciado à revelia da equipe econômica.
Ademais, 2020 é ano eleitoral, dessa forma, os prefeitos precisam demonstrar capacidade de controle financeiro.
No início do mês, o Senado aprovou projeto de lei de ajuda da União de 60 bilhões de reais para Estados e Municípios, cujo texto inclui a suspensão de 60 bilhões de reais em pagamentos de dívidas para 19 Estados.
A conta já está sobrando para Governo Federal.
As graves condições globais de recessão que deverá ter um período prolongado e o risco de solvência que se espalha amplamente pelas economias no mundo, devem apertar ainda mais para baixo o PIB nacional.
Além disso, o Brasil, que já registrava mais de 12 milhões de desempregados no início do ano, tem agora a expectativa de aumentar cerca de 20%, conforme estimativas da OIT para a crise do COVID-19, que deve gerar mais 14 milhões de desemprego, o que seria um desastre extremo.
Para Vladimir Maciel, isso traz uma consequência evidente, “corremos o perigo de voltar às condições da década de 80, com dívida pública rolada 100% diariamente e com emissão de moeda para cobrir os rombos fiscais.
Isso tudo acompanhado de processo inflacionário elevado e persistente”.