Por Rozana Barroso, presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas A manutenção da data do Exame Nacional do Ensino (ENEM) é mais uma demonstração da falta de responsabilidade do governo Bolsonaro.
O país foi atingido em cheio pela Covid-19, as aulas estão suspensas, assim como muitos outros serviços.
A vida das pessoas mudou e o governo continua fazendo de conta que nada está acontecendo.
São mais de 10 mil mortes, mas e daí?, afirma o presidente.
Daí que a juventude é atingida em cheio pelo descaso e por essa política genocida.
Em São Paulo, as mortes pelo Covid-19 aumentaram dez vezes entre crianças e adolescentes desde o inicio de abril, e seis vezes entre pessoas de outras faixas etárias.
Isso, porque a doença se espalha para a periferia onde condições de saúde e saneamento são ainda mais precárias.
Lavar as mãos e manter distância mínima entre pessoas é a melhor forma de se prevenir.
Mas como fazer isso em locais onde a água não chega, o esgoto não é tratado e famílias inteiras convivem em um ou dois cômodos.
Segundo o Perfil dos Municípios Brasileiros (IBGE, 2018), são quase 35 milhões de brasileiros sem o acesso à água potável.
Uma, em cada sete mulheres brasileiras, não tem acesso à agua, assim como 14,3% das crianças e dos adolescentes.
E 7,5% das crianças e dos adolescentes têm água em casa, mas não é filtrada ou procedente de fonte segura.
As disparidades regionais também se apresentam.
Enquanto no Sudeste, 91,25% tem acesso à agua, no Norte esse percentual cai para 57,49%; e no Nordeste, são 73,25%.
Quando se fala de coleta de esgoto.
São quase 100 milhões de brasileiros sem acesso.
Cerca de 13 milhões de crianças e adolescentes não têm acesso ao saneamento básico.
E 3,1% das crianças e dos adolescentes não têm sanitário em casa.
Essa é a realidade de milhões de brasileiros que o governo não enxerga.
Além disso, há no Brasil um número alarmante de desempregados e submetidos ao subemprego; a maioria dos estudantes secundaristas não tem a mesa, o celular nem o computador presente no comercial inadmissível do Ministério da Educação.
O que dizer da manutenção do Enem, com milhares de estudantes sem aula e sem condições de estudar?
Esses estudantes que não tem acesso à agua teriam computador e internet para o ensino a distância?
Não tem.
Sua realidade é muito diferente da propaganda governamental.
Pesquisa realizada pela Casa Fluminense, organização que estuda a vida urbana nas periferias, 2,3 milhões de estudantes, quase metade dos inscritos no Enem não tem computador em casa.
Esses estudantes, em geral, precisam compartilhar seus quartos, sem ter o ambiente silencioso e dividem seus horários com atividades profissionais, cuidados com a família, filhos e outras atividades necessárias para a sobrevivência.
Fazer o Enem é das poucas esperanças para uma imensa maioria de estudantes melhorar sua vida.
Digo por experiência própria.
Comecei a trabalhar aos 14 anos como camelô e quero ser a primeira da minha família a cursar o ensino superior.
Meus pais não tiveram essa oportunidade.
Hoje, são estudantes secundaristas do ensino de jovens e adultos.
Como eu, milhares de estudantes depositam no Enem o sonho do acesso à universidade.
Por isso, queremos que o Enem seja adiado, para garantir condições mínimas de estudo para todos.
As condições de participação dos estudantes das escolas públicas e mais pobres são mais difíceis mesmo em condições normais.
A pandemia amplia essas desigualdades sociais.
Por isso, a UBES convoca, para 15 de Maio, o Dia Nacional pelo Adiamento do ENEM e pelo boicote ao Ensino a Distância, com a campanha #AdiaEnem.
Não podendo estar nas ruas estaremos nas redes, mobilizados para garantir um direito que é nosso, fundamental para construir nossos sonhos.
Vamos aproveitar para lembrar neste 15 de maio, um ano do Tsunami da Educação, momento histórico para o movimento estudantil que derrotou os cortes e o início do pesadelo dos inimigos da educação.
Nosso movimento é justo e tem o apoio de amplos setores da sociedade.
Por isso, mais uma vez seremos vitoriosos.