Por Ricardo Leitão, jornalista, em artigo enviado ao blog Na terça-feira, dia 12, o Brasil registrou o novo recorde de 881 mortos pela pandemia em 24 horas.

Número que aproxima o país das piores estatísticas da Espanha e da Itália.

A tragédia não provocou nenhuma reação do Presidente Jair Messias Bolsonaro, nenhum gesto de solidariedade às famílias dos mortos.

E daí, é o Capitão!

Quando, na semana passada, foi batido o recorde anterior (751 mortos), Bolsonaro antecipou aos incrédulos e escandalizados que, na manhã seguinte, ofereceria um churrasco no Palácio da Alvorada, com direito a peladinha no gramado de Sua Excelência.

A reação negativa foi tão forte que o Presidente desistiu das maminhas e das chuletas – mas não da diversão durante a pandemia.

Na hora marcada para o churrasco se exibiu, exuberante, singrando as águas do lago Paranoá, em Brasília, no comando de um jet-ski.

Abordado por ocupantes de uma lancha que perguntaram pelo churrasco, ele ironizou: “Isso é uma neurose, 70% das pessoas vão se contaminar”.

Dois dias depois, quando o número de mortos ultrapassou 12 mil, tentou se redimir, afirmando que lamentava “cada morte, a cada hora”.

Repercutiu tão verdadeiro quanto uma cédula de R$ 3,00.

No momento das compungidas declarações do Presidente, bandeiras tremulavam a meio mastro em frente às sedes do Supremo Tribunal Federal e do Congresso, homenageando os 10 mil brasileiros mortos pela maior crise sanitária e humanitária do país.

Entre os jornalistas, o Capitão é tratado como o Comandante do Quarteto do Apocalipse, formado pelo Brasil, Belarus e Turcomenistão (ex-república soviética) e a Venezuela (relíquia Bolivariana).

A negligência com a pandemia é a argamassa que os une: os quatro são os únicos, em todo o mundo, que se opõem ao isolamento social como recurso para se enfrentar o vírus.

Em tão pedagógica companhia, é um sonho de verão cogitar que Bolsonaro venha a mudar seu comportamento.

Do contrário.

Para estimular suas atitudes, terá ele se envaidecido ao ser informado que a revista inglesa Lancet - publicação com mais de um século, tida como uma das mais importantes do mundo - o considerou, em editorial, um dos líderes mais negligentes no enfrentamento à covid-19.

Tal comportamento “lunático", como descreveu Felipe Santa Cruz, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, favorece a pandemia, não os que estão na linha de frente, tentando vencê-la: as vítimas e suas famílias; as equipes médicas extenuadas; prefeitos e governadores sem recursos.

Contudo, nada demove o Presidente em sua cruzada contra o isolamento social, nem mesmo os limites estabelecidos na Constituição, que definem os direitos e deveres dos Poderes da República.

E sendo assim, o Capitão, protegido por seguranças armados e seguido por empresários, liderou uma passeata até o STF.

Sem ter sido convidado, dirigiu-se ao gabinete do Presidente Dias Toffoli para exigir que a Corte flexibilizasse o isolamento social.

Não conseguiu, mas saiu de lá reconhecido, sem dúvida, como o Comandante do Quarteto do Apocalipse.

Ao investir sem cessar na radicalização e – como nada mais faltasse – no desrespeito aos mortos, o que pretende Jair Messias Bolsonaro?

Evidente que sua aposta não é na moderação, no diálogo, na paz dos espíritos.

Qual a sua aposta, então?

No confronto?

Na guerra?

Contra quem?

Os brasileiros?