O governador Paulo Câmara, do PSB, não pediu nem decretou o lockdown (bloqueio total das atividades e circulação de pessoas) em Pernambuco por avaliar que a medida seria inviável e inócua, ao mesmo tempo, especialmente sem a ajuda do governo Bolsonaro.

Os aliados usam o exemplo de Fernando de Noronha para ilustrar.

Lá foi realizada uma quarentena, como os brasileiros chamam o lockdown antes da epidemia.

Como é uma ilha, o governo do Estado pode ter o controle do acesso das pessoas, seja por mar ou pelo aeroporto.

Tem também efetivo policial para acompanhar as medidas e, eventualmente, punir quem as descumprir.

O exemplo de São Luis, que também adotou o lockdown, também é emblemático.

Sendo a cidade uma ilha, pode ser fechada, mesmo assim acabou até aqui não tendo adesão popular.

No caso de Pernambuco, o governo do Estado começou avaliando que a medida faria água, a partir da Região Metropolitana, justamente porque não contaria com a participação do governo Federal.

Sem o apoio federal, o bloqueio não seria efetivo.

Os aliados citam o caso da BR 101, que corta vários municípios, como Abreu e Lima Paulista, até o Cabo. Áreas de escape demais, sem garantia de apoio das forças federais.

Filas da caixa O outro empecilho, talvez o maior, também está relacionado ao governo Bolsonaro e são as agências da Caixa Econômica Federal.

O governo Paulo Câmara fez as contas e viu que cerca de 40% da população estaria nas filas, por mais de uma vez, para receber o auxílio emergencial.

Boa parte, sem internet, ia a agência sem mesmo saber se era o dia exato para o recebimento, gerando aglomerações.

No meio da crise da pandemia, sem alarde, os governadores do Nordeste pediram à Caixa que fizesse um acordo com a Febrabam para que o pagamento fosse descentralizado, de modo que o pagamento pudesse ser feito em supermercados, em caixas 24 horas, em qualquer banco, de modo a evitar as aglomerações.

A Febraban gostou da ideia.

A Caixa preferiu ficar com as filas. “Nem todo mundo é cientista nem classe média, para ficar em home office”, diz uma fonte do blog, no governo do Estado. “A população gostaria é que o problema já tivesse passado e pudesse haver a flexibilização”.

Neste cenário, além de não ser efetiva, a medida ajudaria apenas a estressar ainda mais uma população que já suporta uma condição estressante.

Mortos a caminho Nesta queda de braço com a Caixa, nas últimas semanas, o governo do Estado avalia que se contratou um grande problema, com as aglomerações na porta das agências. “O efeito destas aglomerações da Caixa vai aparecer em dez dias, no aumento de casos de contágio e mortes”, afirma uma fonte do Estado.

Já são 10 mil casos da doença e quase mil mortos.

Nesta quinta, no mais recente balanço, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) confirmou, nesta quinta-feira (07/05), 943 novos casos de Covid-19 em Pernambuco.

Entre os confirmados hoje, 329 se enquadram como Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e 614 são casos leves.

Agora, Pernambuco totaliza 10.824 casos já confirmados, sendo 6.302 graves e 4.522 leves.

Também foram confirmados laboratorialmente 42 óbitos.

O governo Paulo Câmara analisa outras medidas, mas o lockdown não está, até aqui, entre elas.

O isolamente mais rígido adotado pelo Ceará está sendo acompanhado.