Por Luciano Siqueira, especial para o blog de Jamildo Nunca será ocioso repetir: a pandemia da Covid-19 não tem precedentes na História, pela sua dimensão e pela drástica alteração nas relações humanas e nos processos produtivos e de serviços que movem a economia.

Sem que as relações de classes se alterem na sua essência, mas com sensíveis mudanças sócio-políticas.

Na arena mundial, a pandemia contribui para a aceleração de uma mutação, que já vinha em curso, de uma configuração geopolítica fundada numa correlação de forças “unipolar”, sob a hegemonia absoluta dos EUA (desde a débâcle da ex-URSS e das democracias populares do Leste da Europa), para uma nova configuração “multipolar”, onde pesam substancialmente a ascensão da República Popular da China, o peso específico da Alemanha na Comunidade Europeia e a presença ativa da Rússia, por exemplo.

O governo brasileiro, subservientemente alinhado aos EUA, deixa de tirar proveito de uma hábil diplomacia que explorasse nossa presença no Brics e relações positivas com a Europa.

Internamente, a junção das crises sanitária e econômica pedem um governo federal coeso e articulado com os demais entes federativos, convergindo para medidas e ações comuns – como acontece mundo afora.

Entretanto, o presidente Jair Bolsonaro sabota a política de enfrentamento da pandemia recomendada pela OMS e praticada em todo o mundo – mantendo-se insensível à escalada de contágio e aos altos índices de óbitos -, segue passivo diante da receita fiscalista do ministério da Economia e estabelece como regra de conduta, uma espécie de “zorra total” cotidiana.

O presidente amanhece e anoitece brigando com gente de sua equipe, com a imprensa e com inimigos reais ou imaginários que toma como estranha fonte de energia pessoal.

Basta que se anote, em meio a essa zorra, o conflito entre a sua afirmação irresponsável de que contaria com as Forças Armadas para atitudes que viesse a tomar em consequência de sua “perda de paciência” com o STF e o Congresso e a nota do seu ministro da Defesa, desautorizando-o.

A Constituição estabelece que o presidente é o comandante em chefe das Forças Armadas e obviamente sua equipe de ministros a ele segue.

Quando o general ministro da Defesa, falando pelos altos comandos militares, se opõe publicamente ao presidente, há que se perguntar: quem governa quem?

Incompetente, sem noção da dimensão do cargo que ocupa e absolutamente despreparado para o mais rasteiro diálogo, Bolsonaro aposta numa anarquia que a seu ver poderá levar o País ao caos e aí, quem sabe, arriscar uma aventura golpista.

A sociedade brasileira reage.

Ainda bem, pois se trata de uma perigosíssima zorra.