Por Renata Abreu Os brasileiros mais velhos estão vivendo um flashback?
E nós, filhos nascidos a partir da transição para redemocratização, estamos num déja-vu, como se estivéssemos dentro de um filme que já vimos, com passado, presente e futuro transformados numa coisa só?
Qual deveria ser a nossa prioridade máxima agora?
Enfrentar o coronavírus.
Com mobilização total, união de forças na luta pelo que há de mais sagrado na existência humana, que é salvar vidas!
Recordes diários de mortes têm sido batidos, são mais de 100 mil pessoas contaminadas.
E isso é só subnotificação, porque a Covid-19 é mais rápida que nossa capacidade de contabilizar todos os números em tempo real.
Quanto mais se sai às ruas, mais mortes ocorrem.
E em meio ao caos epidemiológico, pra complicar a coisa, estamos acompanhando de longe, em casa (para aqueles que estão respeitando a quarentena e preservando a nossa vida e a dos outros), manifestações, aglomerações, confrontos em espaços públicos, afrontamento às instituições, ameaças a autoridades e seus familiares ou a quem quer que seja ‘opositor’.
Ataques e agressões a jornalistas, artistas, professores, profissionais da Saúde remetem aos anos de chumbo, quando um regime autoritário foi instalado.
Por 21 anos, o Brasil viveu com restrição à liberdade, com repressão e censura, com eleições indiretas, num processo antidemocrático, com 16 atos institucionais, que se sobrepunham à Constituição, e onde quem estava no governo tinha o controle da Câmara dos Deputados e do Senado.
Mas quando voltamos ao passado?
Quando não se permite que pontos de vista sejam colocados à prova porque não há argumentos para defendê-los.
Quando se perde a capacidade de escutar o que os outros têm a dizer e, quem sabe, até mudar de opinião e se transformar.
Quando se descarta serenidade, sabedoria e bom senso para gritar ‘cala a boca’.
Me assusta a enorme dificuldade de manter diálogos.
Como tratamos os outros mostra como realmente somos.
Ser cordial apenas com aqueles que comungam conosco e intolerante ao menor sinal de contrariedade é um caminho perigoso para o Brasil, que já passou por isso quando era uma Nação com surdez crônica.
Pelo bem da democracia, temos de defender o direito de todos se manifestarem, com respeito, sejam quais forem seus pontos de vista.
Voltar a ouvir o outro, ser tolerante com ideias e opiniões que divirjam das nossas, antes que seja tarde ou fracassaremos como Nação!
Renata Abreu é presidente nacional do Podemos e deputada federal por São Paulo