Por João Rogério Alves Filho, em artigo enviado ao blog Em 1986, o economista Delfim Netto lançou seu livro “Só o Político Pode Salvar o Economista”.
Passados 34 anos da 1ª edição dessa obra, a leitura de seu título é suficiente para avaliação do momento que atravessa nosso país.
Embora ainda não tenhamos alcançado as respostas que buscamos sobre como lidar com a peste que assola o planeta, exemplos de países onde os danos humanitários, epidemiológicos e econômicos foram minimizados apresentam algumas características em comum: a aplicação do Estado para a minimização dos impactos socioeconômicos e a capacidade de liderança de seus governantes que passaram a conduzir, com sucesso, orientações que levaram a mitigação da propagação viral, assim como a confiança dos agentes econômicos em um comando para a condução daquelas nações.
Ao mesmo tempo, em nosso país, tais indefinições já estão sendo precificadas da pior forma pelo mercado.
Os investidores, sabemos, são capazes de lidar com cenários negativos, mas encaram de forma bem mais depreciativa os cenários incertos.
Por “incerteza”, mesmo na ausência de respostas que só virão da mensuração confiável dos danos gerados, entenda-se a ausência de uma liderança que aponte caminhos claros a serem seguidos.
Assim, o festival de horrores da política nacional desde o início desse que é o maior desafio enfrentado pela humanidade nos últimos cem anos, permite-nos afirmar que a cada semana o pesadelo da semana anterior passe a ser encarado como o cenário realista da semana em curso, para o futuro de nossa economia.
Enfrentamos desencontros de toda sorte e natureza, passando por indefinições na área da saúde, ingerência de Ministros em temas econômicos com direcionamento oposto ao que defende o ocupante da pasta a que cabe o assunto, atuação de outros dois Poderes para anulação de posições questionáveis do Executivo Federal, revisão semântica do significado de “carta branca” quanto a soberania ou autonomia, e ainda capítulos dignos da teledramaturgia; não fossem a apresentação de uma tragédia com final previsivelmente avassalador.
Há pouco fomos sacudidos com a suspensão da posse do Diretor-Geral da Polícia Federal Alexandre Ramagem, pelo Min.
Alexandre de Moraes - alegando abuso de poder e desvio de finalidade - em mais um capítulo dessa sucessão de acontecimentos que reflete grande instabilidade aos investidores. É urgente uma conclamação às instituições para que restaurem a ordem e o foco no combate aos aspectos primários desse cataclisma biológico, sendo eles as ações de mitigação de seus danos à vida e à economia.
Sem foco no que é principal e mais importante, podemos prever a entrada de nosso país em uma espiral decrescente que poderá nos tomar algumas gerações para revertê-la.
Sim, é verdade!
Nesse momento, “Só o Político Pode Salvar o Economista”.
João Rogério Alves Filho é economista e sócio-diretor da PPK Consultoria.