Meus garotos Por Ricardo Leitão, jornalista, em artigo enviado ao blog Previsões dos epidemiologistas indicam que até o final deste mês a pandemia matará mais de 6 mil brasileiros.

Economistas, por sua vez, calculam que a recessão ampliará de 12 para 14 milhões o número de desempregados.

Para mentes comuns, com certeza bastaria.

Mas não para o Presidente Jair Bolsonaro, sempre empolgado com as grandezas nacionais.

Tanto que juntou às duas crises mais uma - a nova crise política – planejada, produzida e levada a público por sua mente prodigiosa.

Como diriam os analistas, uma tempestade perfeita.

A iniciativa do Capitão se insere no seu variado cartel de trapalhadas.

Pela madrugada, mandou publicar edição extraordinária do Diário Oficial com a exoneração do Diretor-Geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Como esperava, seu ato levaria ao pedido de demissão do Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

Principal juiz da Operação Lava Jato, Moro era o mais popular integrante da administração federal.

Seus incômodos com Bolsonaro tornaram-se frequentes e sua saída dada como certa nos “ninhos de cobra” de Brasília.

No entanto, mesmo assim surpreendeu a decisão intempestiva do Vosso Presidente.

Quais os motivos?

Para se chegar a respostas plausíveis é preciso retroceder no tempo.

Jair Bolsonaro tem três filhos parlamentares.

O mais velho, Eduardo, é deputado federal por São Paulo; o segundo, Flávio, senador pelo Rio de Janeiro; o terceiro, Carlos, vereador pela cidade do Rio de Janeiro.

Os três também atendem pelos codinomes de Zero 1, Zero 2 e Zero 3, respectivamente.

Há um quarto filho - Zero 4, claro – que por enquanto se notabiliza como fauno de condomínio.

Além do mesmo pai, Zero 1, Zero 2 e Zero3 têm outro entrelace: estão encrencados em investigações na Polícia Civil do Rio de Janeiro, na Polícia Federal e na Câmara dos Deputados.

Os motivos das investigações incluem desvio de salários de servidores na Assembleia Legislativa do Rio, organização de milícias digitais e apoio a grupos golpistas.

Os inquéritos da Polícia Federal, supervisionados pelo STF, são os que mais preocupam.

Bolsonaro pensava que Moro, a quem a Federal era subordinada, poderia paralisá-los ou convencer o Diretor-Geral Valeixo a lhe encaminhar relatórios sobre o trabalho dos delegados.

Nada conseguiu e então decidiu demitir Valeixo e provocar o pedido de demissão de Mouro.

A repercussão é péssima, pelo que Sérgio Moro simboliza no combate à corrupção e pelos atos de Bolsonaro evidenciarem intenção de usar as instituições públicas para salvaguardar a presumida honra de sua família.

Para tanto, teria praticado crimes que vão desde a falsidade ideológica à irresponsabilidade administrativa e à prevaricação.

A crise aportou na Câmara dos Deputados, onde já se acumulam 29 pedidos de impeachment do Vosso Presidente, e no Supremo Tribunal Federal, onde o Capitão deverá comparecer para dar explicações.

Os inquéritos da Policia Federal continuarão, agora, mais do que antes, sob o foco da mídia e da sociedade.

Na lama desse pântano foram mergulhados Moro e Valeixo.

Na primeira cartada, Bolsonaro tentou substitui-los por Jorge Oliveira e Alexandre Ramagem, próximos do clã.

Não resistiu às pressões e desistiu de Oliveira.

Conseguiu sustentar Ramagem, que deixou a direção da Agência Brasileira de Informações para assumir a Diretoria- Geral da Polícia Federal. É amigo de Carlos, o Zero 3, investigado pela própria Federal por ligações com as milícias digitais.

Dados os currículos, Carlos e Ramagem têm tudo para formar uma das mais sólidas parcerias desta República tropical.