Por Ricardo Almeida, dirigente nacional do MBL em artigo enviado ao blog Ao final do artigo publicado na semana anterior, eu havia prometido dar continuidade à análise sobre o caráter pós-moderno da figura presidencial.

Pauso brevemente o projeto para comentar um fato, tão repleto de consequências simbólicas, que o consideramos, sem exagero, um ponto de virada na trajetória do governo.

Sergio Moro ironiza bordão de Bolsonaro, em novo embate com família Líder do Aliança pelo Brasil em PE, Coronel Meira sai em defesa de Bolsonaro e critica o ex-ministro Sergio Moro A saída de Sérgio Moro não é, como alguns tem vaticinado, o fim de Bolsonaro.

As Cassandras do apocalipse sempre adiado deveriam ter cautela proporcional à quantidade de suas profecias já desmentidas.

Já vimos muitos fins do governo.

E depois do mais novo fim, estranhamente, ele prossegue.

O que é seguro apontar são os fatores estruturais, aquilo que subjaz à variedade dos fatos.

Primeiro, a tendência ao declínio.

Desde o início do mandato, Bolsonaro prossegue com popularidade declinante ou estagnada; ela jamais subiu.

Segundo, o caos como método.

A cada novo solavanco no noticiário, a militância se mobiliza com eficácia menor, embora essa perda de força esteja longe de ser linear.

Terceiro, o estreitamento dos horizontes.

A cada crise, desfazem-se as ambições do governo, reduzindo-se os objetivos, cada vez mais, ao exclusivo propósito da luta cruenta, desesperada e realizada por todos os meios, pela sobrevivência.

A saída de Moro é a consumação do processo de abandono de uma poderosa ambição: usar o aparato do Estado para abalar o establishment político.

Esta ambição, a mais importante na “Nova Era”, já que alimentava não uma, mas duas esperanças, as de olavetes e lavajatistas, não seria realizável senão através de um instrumento como a Lava Jato.

A Lava Jato foi o mecanismo, para muitos providencial, de abalar a confiança dos corruptos na inoperância do sistema jurídico brasileiro para os crimes do “colarinho branco”, cujos detalhes sórdidos a mídia espetacularizara em todos os anos entre o mandato de Sarney e o impeachment de Dilma, isto é, ao largo da história integral da redemocratização do país.

Bolsonaro fez uma escolha, claríssima nos termos que a descrevem: para salvar o filho, e talvez a si mesmo, ele destruiu a Lava Jato.

Os passos deste triste périplo são por demais conhecidos para ser necessário narrá-los.

Ao término dele, restava o último vínculo com a operação: a presença de Sérgio Moro, desconfortável para ambos, quase constrangedora.

O segredo da morte da pauta anticorrupção era desses segredos que todos sabem, e por isso se fazem zelosos em guardar. É provável que Moro tenha se sentido liberto.

A estridência da militância que se ergue contra ele lhe dará o pretexto de expor o segredo.

Há quem vibre com isso.

Há quem se enfureça.

Quanto a mim, não estou certo de que algo grandioso será refundado (ao menos, não para nós).

A mim me parece que veremos tão somente o desenrolar do fim indefinidamente adiado de um governo até que não reste nada mais para findar.