Diante de um inimigo desconhecido, governos de todo o mundo têm adotado medidas drásticas para conter o avanço desenfreado da Covid-19.

A crise é sem precedentes, mas todas as escolhas têm consequências.

A adesão ao isolamento social, por exemplo, tem impactado negativamente diversos segmentos da economia.

Para o setor sucroalcooleiro, no entanto, a conta vem em dobro: além de estarem começando a notar uma diminuição no consumo do açúcar, os empresários já estão enfrentando uma queda brusca na venda do etanol.

Nas contas do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool em Pernambuco (Sindaçúcar), a diminuição no consumo do biocombustível já chega a 60% - queda que poderá comprometer a realização das atividades na entressafra.

Recém-iniciada, a entressafra da cana-de-açúcar seguirá até o próximo mês de agosto e, durante esse período, há pouca ou nenhuma produção dentro das usinas.

A formação de estoques é o que garante o faturamento das empresas e o abastecimento de açúcar e etanol em todos esses meses.

Acontece que, com a queda no consumo do combustível, o produto está sem fluxo de vendas.

Já com relação ao açúcar, houve aumento de demanda no início do isolamento social, mas, agora, o mercado se encontra abaixo da realidade de consumo para o período. “Isso compromete, especialmente, os investimentos que precisamos fazer durante a entressafra, notadamente nas áreas agrícolas, quando precisamos acelerar serviços de custeio e de renovação de canaviais”, disse o presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha. “O problema é ainda maior devido à crise que o petróleo vem enfrentando mundo afora, com uma queda de preços que chegou a atingir mínimas históricas nos últimos dias.

Essa instabilidade afeta, diretamente, a precificação dos combustíveis veiculares no Brasil.

Para se ter ideia, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) contabilizou, entre os dias 12 e 18 de abril, um recuo de 2,37% no preço médio de revenda do etanol.

A queda, no entanto, já vem se repetindo há cinco semanas.” Para minimizar a crise, o Sindaçúcar apresentou, há mais de vinte dias, uma lista de pleitos ao Governo Federal - todos eles seguem, até hoje, sem respostas. “Os tributos relativos ao PIS/Cofins sobre as vendas merecem ser revistos pelo tempo que durar esse crise, bem como o aumento da Cide para a gasolina.

Além disso, também precisamos de uma política de financiamento para a estocagem do etanol.

As dificuldades do setor da indústria da cana-de-açúcar são relevantes, considerando-se que geramos mais de 70 mil empregos diretos em 58 municípios pernambucanos”, critica Cunha. ÁLCOOL 70% Para ajudar no combate à Covid-19, empresários do setor sucroalcooleiro já produziram cerca de 90 mil litros de álcool 70%, que foram doados a hospitais, polícias e prefeituras.

Para Renato Cunha, a comercialização do produto poderia ser uma forma de amenizar a crise que vem sendo enfrentada pelo setor. “O desenvolvimento mercadológico depende de autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o que pode ocorrer a qualquer momento.

O mercado não é imenso, mas a entrada no mercado do álcool com outros fins que não apenas o uso veicular pode ser uma alternativa com boas perspectivas”, defendeu.