O sociólogo e ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, participou, com os associados da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), de uma videoconferência promovida pela entidade na manhã desta quinta-feira, 23/04. “Precisamos nos focar em vencer o vírus e salvar a economia”, disse no evento.

Fernando Henrique promete apoio contra Bolsonaro em 2022 e pede união da oposição O atual cenário político nacional foi o tema central da reunião online, que contou com a moderação do presidente-executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa. “Essa conversa foi muito produtiva pois, de maneira franca, o ex-presidente nos apresentou seu ponto de vista sobre a situação em que nos encontramos e nos apresentou caminhos para superá-la”, disse Barbosa.

Fernando Henrique explicou que o momento mostra que, ao longo dos anos, os governos não se atentaram de algo importante e que será altamente impactado com a pandemia. “Não cuidamos com atenção da vida dos mais pobres.

A desigualdade é gigante e nesta situação ela se torna ainda mais preocupante”, afirmou.

O ex-presidente defendeu ouvir aqueles que entendem do assunto e focar na questão epidemiológica. “Infelizmente não existem remédios ou vacinas para esta doença.

A única forma de combate é nos distanciarmos.

Para quem vive em uma casa apertada é muito difícil, por isso a desigualdade social se torna um risco para o agravamento da pandemia.

A quarentena é algo que vai contra os interesses da economia e também não agrada as pessoas por proibir a socialização, porém nossa única defesa real é ficar em casa”.

Endividamento do Estado Em sua análise, não existe outra forma de superar este momento sem o endividamento do Estado e a ajuda de capital internacional.

Para ele, essa é uma conta que será paga pelas gerações futuras, pois, em sua opinião, os reflexos deste momento serão sentidos ao longo dos próximos dois a três anos. “Não acredito que os EUA perderam a supremacia, mas é certo de que se eles não entrarem com ajuda financeira a China entrará.

Quando digo EUA estou falando pela influência que têm no FMI (Fundo Monetário Internacional) e no Banco Mundial.

Mas, é fato que precisaremos do apoio dos bancos nacionais também”, afirmou.

FHC ressaltou que a globalização não vai desaparecer, mas vai haver mudanças nas atividades dos países e das empresas para evitar dependências em setores essenciais de um ou poucos países.

Outro ponto de destaque na fala do ex-presidente foi o momento de fricções políticas.

O ex-presidente declarou não apreciar essa desunião dos poderes, enfatizando a importância da coesão da sociedade para passar pela crise.

FHC ressaltou a diferença entre os militares que estão no governo e a missão constitucional das Forças Armadas.

Sobre a formação de um centro que se contraponha aos extremos, como ocorreu na eleição passada, disse que a grande preocupação é a inexistência de lideranças fortes e que há alguns governadores que começam a se destacar, mas que ainda é cedo para dizer como esse movimento vai evoluir.

Ao analisar a postura dos membros dos governos, ele destacou a importância de passar informações à população. “Em momentos como este o importante é explicar a situação, buscando mostrar que existe uma estratégia e uma chefia.

Temos que passar segurança aos que estão em sofrimento”, destacou.

Com o uso do termo ‘paciência histórica’, ele afirma que é necessário esperar, pois as instituições mudarão com o tempo. “Temos que respeitar a democracia.

O processo é mais profundo e os poderes precisam se reorganizar e se alinhar”.

Próximos passos Para o ex-presidente, pensar em estratégias para o pós-crise, promovendo a reabertura do mercado é muito importante, porém é necessário estar com os pés na realidade, pois, em sua visão, o país ainda está na emergência. “Estamos pensando em um próximo passo, mas não fomos capazes de mostrar ao povo que entraremos em uma segunda fase da crise, pois a população ainda está preocupada com os leitos em hospitais e não preparada para pensar em uma retomada da economia.

A população está pensando no imediato, na preservação de sua vida, não no futuro”. “O momento pede cautela e análise.

Temos que tomar cuidado para voltar a vida normal e não correr o risco de uma segunda onda de contágio.

Temos que nos basear nos exemplos dos outros países que já passaram pelo pico da pandemia.

Analisar o que deu certo e adaptar para a nossa realidade.

Precisamos equilibrar este jogo, analisando as situações com racionalidade e sem voluntarismo”, afirmou.