Por Gustavo Vieira de Melo Monteiro, especial para o blog de Jamildo A recessão é inevitável.

As estimativas anteriores ao agravamento da crise do Coronavírus apontam para uma contração de, pelo menos, 3,5% do PIB em 2020.

A dinâmica da pandemia está criando um círculo vicioso que impõe uma redução na oferta de bens e serviços em função do bloqueio, prejudica a economia e reflete na rentabilidade de todo setor corporativo.

Assim, a redução da atividade, por sua vez, leva a reduções significativas em salários e empregos, criando uma queda subsequente na demanda.

Nessa espiral, os lucros desaparecem, a baixa atividade econômica se estabelece e os pedidos e compras minguam, forçando as empresas a adiar pagamentos e obrigações, contribuindo para a elevação da taxa de desemprego a níveis dramáticos.

Ocorre que, como não poderia ser diferente, o declínio resultante da falta de confiança da população agrava a depressão, já que as pessoas – inseguras – reduzem o consumo, acabam por suspender decisões empresariais, cancelar investimentos, compras, adiando tudo para o futuro, ainda incerto.

Sendo assim, em termos práticos e realistas, não devemos esperar que, após a crise, teremos, em seguida, ato contínuo, uma recuperação econômica acentuada.

Não existem evidências científicas que justifiquem esse pensamento.

Os parâmetros serão outros.

Novo padrão de comportamento, alteração de costumes, exigências e uma curva de aprendizagem longa pela frente.

O novo normal.

Por isso, por uma questão de ritmo e marcação do compasso da sinfonia econômica, precisamos de uma intervenção estatal aguda, já que todos os personagens no teatro da economia ainda estarão recuperando a confiança, assombrados pelo risco da sobrevivência, relegando para o depois consumir ou investir.

Diante desse quadro, absolutamente realista, a recuperação exige a preservação dos fundamentos da economia e as medidas do governo devem mirar as pessoas.

Como não? É preciso evitar a perda de experiência, habilidades e conhecimentos, o que, certamente, tornará tudo ainda pior, face a necessidade de acelerar a retomada.

Diante desse quadro, mesmo que tenhamos um governo que chegou ao poder propagando uma plataforma liberal, não se pode esquecer que, em momentos de crise, somos – ou devemos ser – todos keynesianos.

Segundo o pensamento de Keynes, a demanda por produtos em uma economia é influenciada tanto por decisões privadas quanto governamentais.

Em termos de crises econômicas é certo que a produção, os preços e os salários não se adequam imediatamente a essas mudanças e isso tende a levar à falta de trabalho ou mercadorias, de tempos em tempos.

O desinvestimento por meio de demissões, assim como a redução dos gastos de consumidores em uma recessão, pode dar ainda mais tração à tendência de desaceleração da economia. É por isso que faz todo sentido a proposta de Keynes quando afirma que em momentos de crise deve o Estado tomar a frente e compensar as falhas de mercado por meio de políticas públicas.

Neste momento, melhor que os liberais roguem uníssonos por medidas e intervenções do Estado, porque serão elas que poderão mudar o ciclo econômico, falências, inadimplência, desaparecimento de empregos, redução de salários e demissões como resposta à crise.

Desse modo, não se mostra novidade alguma que em uma país com um déficit de infraestrutura como o Brasil, a estratégia de combate à crise econômica – pós pandemia – passe, também, pelo endividamento estatal para financiar grandes projetos de infraestrutura que exijam numerosos contingentes de trabalhadores. É natural que em um momento como o que vivemos – em meio a uma pandemia planetária, sujeitos ao lockdown – recordemos da ensinança de Keynes, como já fizeram os Estados Unidos da América, em 1930, com o “New Deal”, em reação à Grande Depressão, e, em 1947, com o Plano Marshall.

E não foi diferente na crise financeira de 2008, quando vários países, igualmente, recorreram a medidas intervencionistas para reavivar suas economias4.

Nesse contexto, espera-se do Estado a intervenção para resolver desequilíbrios no curto prazo – mesmo que ao custo do endividamento – porquanto esperar que o próprio mercado se autorregule no longo prazo não é uma opção, já que, como diria Keynes: “no longo prazo, estaremos todos mortos”.

Gustavo Vieira de Melo Monteiro é advogado PS do autor: Gregory Mankiw, Professor de Harvard – escreveu em 2008, Artigo publicado no The New York Times: “Se você for se voltar para apenas um economista para entender os problemas que acometem a economia, há poucas dúvidas de que esse economista seria John Maynard Keynes.

Embora Keynes tenha morrido há mais de meio século, seu diagnóstico sobre recessões e depressões continua sendo o fundamento da macroeconomia moderna.”