Por Roberto Numeriano A estimativa da quantidade real de infectados pelo coronavírus no Brasil era, no dia 05 de abril, de aproximadamente 85 mil pessoas, segundo uma equipe multidisciplinar da Universidade de Campinas, no estado de São Paulo.

Nesse dia, o número não chegava a 6 mil casos notificados e comprovados.

Para além do baixíssimo número de testes em relação à população, e da extensa subnotificação no país por parte das autoridades de saúde, tal estimativa, mesmo se estatisticamente conservadora, projeta para os meses de abril e maio um contágio ainda mais massivo no país.

Em um grau que mais diante vá não apenas postergar o pico de contágio, mas sobretudo esticar a chamada fase de “platô”, quando o número de casos se estabiliza por um período para depois, finalmente, ocorrer a queda da curva de contágio.

Nesse cenário, é muito provável que as explosões das “bombas de contágio” ocorram principalmente nos grandes centros industriais do país, a exemplo do Estado de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Se levarmos em conta que, mesmo sob o baixo nível amostral da testagem e a grande subnotificação observada, tais estados já concentram, com a soma do Distrito Federal, maios de dois terços dos casos comprovados, podemos deduzir que tais centros produtores são, desde já, grandes vetores de “cargas virais” pelo país afora, a partir do transporte pela malha rodoviária.

Essa hipótese precisa ser cogitada porque não se sabe, cientificamente, a real capacidade de sobrevivência do coronavírus sobre a superfície de diversos materiais.

Em paralelo, deve-se cuidar ainda dos motoristas que transportam essas cargas, profissionais expostos ao contágio desde o momento da recepção da carga e sempre vulnerável durante o trajeto até o destino.

Para prevenir a disseminação potencial maior do vírus da Covid-19 no país, sobretudo a partir daqueles centros, cremos ser necessário, além da desinfecção dos veículos no momento da recepção das cargas, estabelecer ao longo das rodovias alguns pontos de controle estratégicos para exercer uma vigilância sanitária sobre a carga e o estado de saúde dos motoristas, aferindo, neste caso, seu estado geral.

Tais pontos poderiam ser localizados junto aos postos da Polícia Rodoviária Federal, muitos deles situados nas divisas interestaduais.

Trata-se de criar um cordão sanitário preventivo para bloquear o mais possível o alcance da pandemia no território nacional.

Mesmo que essa checagem e controle não possa ser universal, dada a impossibilidade de meios e pessoal, crermos ser possível em um nível amostral o suficiente representativo para diminuir o avanço do vírus e cooperar no esforço nacional de contenção da pandemia.

Roberto Numeriano é cientista político e passou por vários partidos de esquerda como candidato no Recife