A anatomia de um instante Manoel Fernandes, diretor da BITES, em informe ao blog O escritor espanhol Javier Cercas publicou em 2009 o livro “A Anatomia de um Instante” com o relato dos 30 minutos decisivos para a democracia do seu País durante a fracassada tentativa de golpe de Estado em fevereiro de 1981.
Liderados pelo tenente-coronel António Tejero Molina, 358 militares invadiram o parlamento e após disparar tiros para o alto mandaram os presentes se atirarem ao chão.
Apenas três resistiram e ficaram em seus lugares: o presidente do governo, Adolfo Suarez, o ministro da Defesa, general Gutierrez Mellado e o líder comunista Santiago Carrillo.
Juntos se tornaram ícones da democracia espanhola e símbolos da resistência contra iniciativas capazes de desestabilizar uma nação em tempos de crise.
Algo parecido aconteceu na tarde de hoje, segunda-feira, 06, com a boataria da demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Em poucos minutos, a opinião pública digital se mobilizou e utilizou a Internet para pressionar o presidente Jair Bolsonaro no sentido contrário.
Não havia como esperar pelo óbvio e muitos preferiram resistir a se jogar no chão.
A primeira notícia da demissão saiu no perfil no Twitter da jornalista Helena Chagas às 14h32.
Pouco tempo depois, às 15h31, o jornal O Globo estampou no seu site o desejo presidencial.
A reação foi instantânea e deve ter surpreendido o monitoramento de redes sociais do Palácio do Planalto.
Desde o início da pandemia, o Sistema Analítico BITES não havia identificado uma ação tão intensa em tão pouco tempo. Às 16h, quando a boataria crescia, o ministro já alcançava a maior taxa de citações em um único dia no Twitter considerando os últimos 30 dias.
Nesse momento já eram 216 mil posts pró-Mandetta. Às 19h, a totalização já estava em 466 mil tweets, o equivalente a 21% de todos os posts com referência ao ministro desde 06 de março. Às 20h30, Mandetta já havia sido citado em 489 mil tweets.
Número superior aos 421 mil posts sobre Bolsonaro.
O ministro está nos Trending Topics do mundo do serviço há três horas e permanece até agora às 20h50.
No Google, nas últimas quatro horas, o interesse pelo ministro nas consultas realizadas no Brasil era o dobro daquelas relacionadas a Bolsonaro.
Em paralelo, a notícia de O Globo era amplificada na mesma velocidade no Facebook. Às 16h eram 157 mil interações de usuários que compartilhavam o conteúdo na sua rede de amigos. Às 16h46 já havia alcançado 416 mil compartilhamentos que saltaram para 738 mil às 16h47 e chegaram a 1,1 milhão às 5h45.
Para entender o tsunami digital sobre o presidente Bolsonaro é preciso verificar o tamanho da amplitude nas redes sociais da manchete de O Globo.
No universo de 321 mil artigos publicados em sites da mídia profissional e alternativa do Brasil nos últimos sete dias, o texto de hoje é mais compartilhado até agora.
TENTATIVA DE REAÇÃO Os aliados do presidente tentaram esboçar uma reação e criaram um conjunto de hashtags negativas sobre o ministro e seus aliados como o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, mas até às 20h só tinham conseguido 81 mil citações no Twitter para esse conjunto de expressões negativas.