Por Luciano Siqueira, em artigo especial para o blog Ontem, logo após a fala do presidente Jair Bolsonaro em rede nacional de rádio e TV, meu telefone não parou.

Gente de todo lugar, em ligação direta ou mensagem de WhatsApp, a manifestar estranheza e indignação. “O PCdoB já viu isso em toda a sua história?” “Você já passou por uma dessas!?

A referência ao PCdoB se dá em razão de que o partido completa precisamente hoje, 25, 98 anos de existência ininterrupta.

Como organização política, uma trajetória peculiar e única num país de partidos conjunturais.

Quanto a mim, em quase cinquenta anos de militância vi muita coisa absurda.

No regime militar, as diatribes e baboseiras de um Costa e Silva, a repressão sanguinária de um Garrastazu Médici e os despropósitos de João Batista Figueiredo, aquele que dizia preferir cheiro de cavalo ao cheiro do povo.

Vivemos muitos de nós, os desacertos e esquisitices de Fernando Collor e mais recentemente as parvalhices do golpista Michel Temer.

Bolsonaro, entretanto, parece querer ultrapassar todos os limites.

Faz uma oposta tão ousada quanto perigosa, ao modo do seu ídolo Trump: ataca as medidas de proteção da população contra a pandemia e atribui, desde já, aos que lutam pela vida a responsabilidade da débâcle econômica.

O mundo afundando numa recessão de dimensão ainda imprevisível e o Brasil surpreendido com as calças na mão, recepcionando a pandemia do coronavírus com uma economia travada pela profissão de fé de Paulo Guedes no controle orçamentário acima de tudo – mesmo pagando o preço da semidestruição das atividades produtivas.

Uma sociedade estruturalmente marcada por desigualdades extremas.

Um povo desprotegido.

Nesse cenário “de guerra”, o presidente da República vê falhar seu “posto Ipiranga”, não sabe o que fazer, mira-se precariamente no presidente norte-americano, ausenta-se do seu posto de liderança nacional, briga com governadores e prefeitos empenhados no enfrentamento da pandemia, torpedeia a grande mídia e – uma vez mais, até quando? – encena o papel de vítima “do sistema” tão ao gosto de suas milícias digitais, que lhes são fieis.

Assim, instituições e segmentos sociais os mais diversificados se vêem no dever de somarem esforços em defesa da vida, à revelia do presidente da República e de gente como o grande empresário bolsonarista para quem “podem morrer uns 5 a 6 mil, mas a economia não pode parar”.

Tomam ciência de que há que como uma urgência de união nacional em defesa da vida.

E, como corolário inevitável, o ajuntamento de vontades e energias com vistas ao que virá depois, pós-epidemia.

Você, meu caro leitor, cumpra rigidamente as medidas recomendadas pelas autoridades sanitárias.

E fique de olho na evolução do cenário político – que também tem tudo a ver com a sua vida e a vida de todos nós.